BELÉM É LOGO ALI: UMA ANÁLISE LOCAL SOBRE A MAIOR CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE O CLIMA, A COP 30. 17/03/2025
- Ana Cunha-Busch
- 16 de mar.
- 5 min de leitura
Atualizado: 17 de mar.

BELÉM É LOGO ALI: UMA ANÁLISE LOCAL SOBRE A MAIOR CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE O CLIMA, A COP 30.
O ano de 2025 será decisivo para a pauta climática e ambiental, como um todo. É a primeira vez que a Conferência das Partes sobre o clima, após 29 edições, ocorrerá em solo brasileiro, especialmente na cidade de Belém do Pará, uma das maiores capitais do norte do país.
Foi necessária uma boa articulação política, para trazer a trigésima edição da COP para Belém. Primeiro, porque estamos falando de uma cidade relativamente pequena, quando comparada às sedes das últimas edições do megaevento, e além disso, o Brasil tinha opções tidas como mais “seguras” em termos logísticos, como Rio de Janeiro e São Paulo, mas existe um motivo especial para Belém ter sido escolhida sede da COP 30, e ele é muito simples de entender: o mundo precisa debater preservação, conservação e financiamento dentro da Amazônia, olhando para a Amazônia e suas belezas naturais, além dos muitos desafios que uma cidade urbanizada enfrenta.
Para além disso, a COP 30 possui um grande apelo da comunidade civil, já que os movimentos sociais, há muito se viam distante dos salões onde se discutiu, em edições anteriores da Conferência, o futuro do planeta, incluindo as comunidades tradicionais e periféricas. Nesse sentido, a Cúpula dos Povos, que estava há três anos sem participar das COPs, já se organiza para estar representada em Belém.
Em Belém serão discutidos temas de grande importância, como o financiamento climático, que ficou 1 bilhão de dólares abaixo do esperado na COP 29 e a revisão e ampliação das NDC’s devido aos 10 anos do acordo de Paris. A organização do evento prepara a chamada “carta de Belém”, que simbolizará um novo acordo dos países em relação às suas metas climáticas.
O fato é que a grande maioria das quase 60 mil pessoas que virão para a capital do Pará em novembro de 2025 pouco conhece a Amazônia, do ponto de vista prático - afinal estamos falando de 11 dias vivendo em Belém e isso certamente inclui um passeio aqui outro ali, entre as muitas reuniões e atividades da Conferência.
Partindo desse ponto de vista, como morador de Belém, considero de suma importância elucidar algumas dúvidas que possam surgir, além de apostar no que pode acontecer durante os dias 10 e 21 de novembro por aqui.
Bom, Belém do Pará é conhecida como a cidade das mangueiras, título conquistado pelos belos corredores formados por estas árvores no centro da cidade, que fornecem sombra, ajudam a reduzir a sensação térmica e manter o clima mais ameno, porém cuidado ao estacionar seu carro, ou uma manga pode quebrar seu para-brisa (é sério).
Por outro lado, estamos falando de uma cidade que se expandiu de maneira desordenada, de maneira que ao lado da chamada “área nobre” da cidade, estão diversos bairros periféricos, onde a arborização ainda é escassa e a população sofre com alagamentos, principalmente no inverno amazônico, período que vai de dezembro a março e é marcado por intensas chuvas. O baixo acesso ao saneamento básico descarte irregular de lixo e construções mal planejadas, os alagamentos afetam diversas famílias, estabelecimentos e compromete o próprio tráfego nessa região.
Porém, para a COP 30, a cidade está passando por diversas transformações e o saneamento é parte do legado de obras que ficarão para a população. Por ser uma cidade irrigada por oito grandes bacias, possuímos diversos canais, e dois dos maiores estão sendo transformados em parques lineares, que, além de aumentarem as áreas verdes, reduzindo as ilhas de calor, também ajudarão na drenagem de águas pluviais, o que tende a reduzir o risco de enchentes (espero que funcionem bem).
Muitas pessoas demonstraram grande preocupação com a hospedagem, e acho sinceramente que este é o ponto mais sensível até o momento. Belém não possui a quantidade de leitos necessários à demanda da COP 30, de modo que está sendo feito um grande esforço coletivo, dos governos municipal, estadual e federal, da iniciativa privada e da própria população para que todos tenham onde se hospedar confortavelmente durante o evento. A polêmica, no entanto, está no valor que alguns anfitriões de plataformas como Booking e Airbnb têm praticado, considerado abusivo (apartamentos chegando a casa dos milhões). O governo federal informou que possui uma equipe dedicada a conscientizar essas pessoas para que os valores dessas hospedagens possam baixar e eu acredito que conseguirão.
No mais, algumas redes hoteleiras estão se instalando na capital e construindo empreendimentos muito bonitos e aconchegantes, é o caso da rede portuguesa Tivoli, que constrói em ritmo acelerado um hotel de luxo em um antigo prédio público cedido pelo governo à iniciativa privada. Os lusitanos também adquiriram um galpão à beira da baía do guajará e estão construindo o hotel Vila Galé Collection Amazônia, uma espécie de hotel boutique. Além disso, o governo do estado prepara a Vila COP 30, destinada a líderes e chefes de estado dos 190 países esperados para o evento. Para o público em geral, algumas escolas públicas serão preparadas para servirem de dormitórios, ampliando assim o acesso a leitos para hospedagem. Quem preferir, também poderá se hospedar na ilha do combu, localizada em frente à cidade de Belém, local de contato direto com a natureza e muito próximo da capital. Alguns transatlânticos poderão ancorar nas redondezas do distrito de Outeiro, permitindo também se hospedar à bordo de embarcações com todo o conforto.
Tenho certeza que a experiência de quem virá para o evento será a melhor possível, afinal é aqui que conseguimos reunir 2 milhões de pessoas nas ruas da cidade no segundo domingo de cada mês de outubro, para acompanhar a maior procissão católica do mundo, o Círio de Nazaré (vale lembrar que Belém possui uma população de 1,3 milhão de habitantes). Diferente da COP, no Círio os turistas, além de lotarem os hotéis, se hospedam na casa de amigos e parentes, de modo que hospedagem nunca é um problema nesse período.
Por fim, quem virá para a COP, pode esperar ser bem recebido por um povo que ama ser visitado e valorizado. Você estará em uma das cidades criativas da gastronomia, reconhecida pela UNESCO, o que atesta que nossa culinária é reconhecida mundialmente pela sua diversidade e sabores únicos. Aproveite para conhecer as muitas ilhas no entorno de Belém, como Cotijuba, Combu e Ilha das Onças. Consuma produtos locais e ajude a movimentar a economia.
Se estiver pensando em vir antes ou ficar depois do evento, sugiro uma viagem para a ilha do Marajó, onde nas cidades de Soure, Salvaterra e Joanes você viverá experiências únicas, como o famoso passeio de búfalo, além de visitar as mais belas praias do arquipélago. Na região Oeste do Pará, visite Alter do Chão, conhecido como o “caribe brasileiro”. A cidade de Bragança, no nordeste do estado, conta um pouco da nossa história, com suas ruas estreitas e casarões antigos. Mas se preferir ficar em Belém, não deixe de conhecer o mercado do ver-o-peso, a maior feira a céu aberto da América Latina, experimente o peixe frito com açaí e sucos das mais diversas frutas. Sugiro não deixar de conhecer a noite paraense, ouvir um carimbó ou ir a uma festa de aparelhagem.
Belém vai te deixar cheio de boas lembranças, venha com o coração aberto e viva a cidade sem muitos julgamentos, garanto que você voltará para o seu local, transformado.
Por André Oliveira
Analista social, amazônida e morador da periferia de Belém do Pará. Há 17 anos atua no segmento socioambiental e nas relações com comunidades tradicionais no estado do Pará.
Comments