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"Deixem-nos viver em paz": a luta de um sobrevivente pelos povos isolados da Amazônia. 09/10/2025

  • Foto do escritor: Ana Cunha-Busch
    Ana Cunha-Busch
  • 8 de out.
  • 3 min de leitura
Atxu Marima nasceu em um dos grupos indígenas isolados do Brasil (STEPHANE DE SAKUTIN)  (STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/AFP)
Atxu Marima nasceu em um dos grupos indígenas isolados do Brasil (STEPHANE DE SAKUTIN). (STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/AFP)

Por AFP - Agence France Presse


'Deixem-nos viver em paz': a luta de um sobrevivente pelos povos isolados da Amazônia

Erin Flanagan


Atxu Marima sobreviveu à gripe que matou sua família após um ataque de onça-pintada os expulsar de seu grupo indígena na Amazônia — mas ele não pode retornar por medo de colocar seu povo em perigo.


Em vez disso, ele se dedicou a fazer campanha para que as comunidades isoladas do Brasil sejam deixadas em paz.


"Estou aqui para contar a história do meu povo", disse Marima à AFP durante uma viagem a Paris para conscientizar a população.


Marima tem apenas cerca de 40 anos, mas já teve muitas vidas. Nascido Atxu entre o povo Hi-Merima, um grupo nômade no sul do estado do Amazonas, ele se tornou Romerito (Pequeno Romero) como criança trabalhadora após fugir da floresta. Mas agora, para sua esposa e três filhos, ele é Artur.


Até os sete ou oito anos de idade, ele viveu entre os rios Purus e Juruá com seu pai, mãe e irmãos como parte de uma das comunidades indígenas "isoladas" oficialmente reconhecidas no Brasil.


O país abriga mais grupos desse tipo do que qualquer outro, com 114 reconhecidos oficialmente como vivendo com pouco ou nenhum contato com o mundo exterior.


Por décadas, o Brasil incentivou o contato com essas comunidades, antes de mudar de ideia em 1987, após reconhecer a devastação que isso trouxe.


Marima e sua família vivenciaram isso em primeira mão quando uma tragédia os forçou a buscar o que ele chamou de "comunidade civilizada" — uma decisão que lhe custou sua família, seu lar, sua língua e sua cultura.


- 'Todos ficaram doentes' -


A infância de Marima na Amazônia foi idílica — cantando para as árvores para incentivá-las a dar frutos, famílias se reunindo para dançar e correr pelo chão da floresta com seus irmãos.


Até que um dia uma onça atacou seu pai. Ele sobreviveu à agressão, mas sofreu um ferimento grave na cabeça e começou a ter alucinações de que seus filhos eram presas — antas e porcos para caçar com suas flechas.


Sua mãe fugiu com eles, deixando seu pai morrendo em sua rede sobre uma cova que havia preparado para ele.


Marima nunca mais o viu.


"Minha família, especialmente minha mãe, decidiu então entrar em contato com o mundo 'civilizado'", disse ele à AFP.


Isso logo os expôs a doenças para as quais não tinham defesas.


"Todos adoeceram e morreram", disse ele, lembrando como sua mãe, tia e vários irmãos sucumbiram ao que ele chamou de gripe.


Marima e quatro irmãos foram os únicos sobreviventes, espalhados entre famílias locais.


Renomeado Romerito, sua família adotiva o forçou a trabalhar em "condições análogas à escravidão" até ele partir, por volta dos 15 anos.


Ele acredita ser o último dos irmãos ainda vivo.


-'Medo de ser baleado'-


Em 1987, o Brasil adotou uma política de não contato, permitindo a interação apenas se iniciada pelos próprios indígenas. Caso contrário, eles devem ser deixados em paz.


Antes disso, "era normal que metade da população de pessoas isoladas morresse no primeiro ano de contato", principalmente de doenças, disse Priscilla Schwarzenholz, pesquisadora da Survival International.


Hoje, Marima disse que grupos isolados também temem o contato porque têm "medo de ser baleados, porque os 'civilizadores' têm armas".


"Não vale a pena entrar em contato com o meu povo... Vou passar uma doença para eles", disse ele.


"Eu não sou mais aquela pessoa da floresta."


-'Viva em paz'-


Marima agora trabalha com a Fundação Nacional do Índio (Funai) no monitoramento do território Hi-Merima, que o governo reconheceu legalmente em 2005.


Ele falou com orgulho sobre seu trabalho de prevenção à pesca ilegal, dizendo que os responsáveis tentam "invadir" e demonstram "nenhum respeito pela área".


Incêndios florestais e desmatamento representam outro risco à sobrevivência deles, alertou, observando que o calor intenso e a seca do ano passado colocaram em risco suas casas e a caça.


"As pessoas não têm o bom senso para proteger a floresta amazônica", disse ele.


Apesar dessas ameaças, os Hi-Merima parecem ter crescido nos últimos 20 anos, desde que as incursões em seu território se tornaram ilegais.


"Você pode ver que há crianças, há bebês... eles estão crescendo e estão saudáveis", disse Schwarzenholz, estimando o número deles em cerca de 150, com base nos vestígios que deixam na floresta.


"Eu sei que eles (os Hi-Merima) não sabem que eu existo", disse Marima.


Mas ele disse que compartilhar sua história era sua maneira de se manter conectado enquanto defendia que grupos isolados decidissem se — e quando — fariam contato.


Até lá, "deixem-nos viver em paz", disse ele.


ekf/ah/fg

 
 
 

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