Ecologista nigeriano de destaque vê pouco resultado na COP30. 24/10/2025
- Ana Cunha-Busch
- 23 de out.
- 3 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
Ecologista nigeriano de destaque vê pouco resultado na COP30
Leslie FAUVEL
Nnimmo Bassey, figura proeminente nas lutas ambientais de décadas no maior país produtor de petróleo da África, participará no mês que vem de mais uma cúpula climática da ONU, desta vez no Brasil.
"Infelizmente!", sorri o nigeriano de 67 anos, que nutre pouca esperança nos resultados desse "ritual" do qual os Estados participam "sabendo que nada de sério resultará disso".
Bassey, ambientalista de longa data, participará apenas de reuniões com ativistas ambientais à margem das negociações oficiais da COP30.
"Para nós, ativistas, a COP oferece espaços de solidariedade, para conhecer outras pessoas, compartilhar ideias e se organizar de uma maneira diferente", disse ele à AFP em entrevista em Lagos, capital comercial da Nigéria.
No entanto, ele tem esperança de que um dia "o espaço externo possa se tornar o verdadeiro espaço de tomada de decisões, enquanto os políticos se tornarão os observadores".
A poluição por petróleo que assola o Delta do Níger há décadas é um exemplo clássico das lutas ambientais contra o extrativismo e os combustíveis fósseis.
Desde a década de 1950, quando o petróleo bruto foi descoberto pela primeira vez no sul da Nigéria, entre 9 e 13 milhões de barris de petróleo foram derramados no Delta, de acordo com um grupo independente de especialistas que realizou um estudo em 2006.
Entre 2006 e o ano passado, a Agência Nacional de Detecção e Resposta a Derramamentos de Petróleo da Nigéria relatou mais de 130 milhões de litros de petróleo bruto derramados no que Bassey descreve como a "zona de sacrifício".
Isso não é suficiente para deter as autoridades nigerianas, que querem aumentar a produção nacional. No início deste mês, o governo anunciou que o número de sondas de perfuração ativas aumentou de 31 para 50 entre janeiro e julho.
"Acredito que o petróleo deve ser mantido no subsolo, que ninguém deve extrair nem uma gota dele", disse Bassey.
- "Jovens se levantando" -
O país mais populoso da África é vulnerável às mudanças climáticas, embora o continente como um todo contribua com apenas cerca de 4% das emissões globais de gases de efeito estufa, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial.
"Cada região tem problemas ambientais peculiares", disse Bassey, que ganhou o Prêmio Rafto de 2012, um prêmio norueguês concedido a defensores dos direitos humanos.
Ele lamentou o "aumento da desertificação" no norte da Nigéria; a "erosão por ravinas" no sul; o "desmatamento" e uma "crise ambiental causada pela mineração ilegal" em todo o país.
"Tudo está realmente horrível."
"As sementes da degradação que vemos hoje, especialmente nos campos de petróleo e mineração, foram plantadas ainda quando eu era criança", disse Bassey, que nasceu no mesmo ano em que a Nigéria exportou seu primeiro petróleo bruto, marcando o início de "uma sucessão de desastres".
Bassey cresceu em uma pequena vila no sudeste da Nigéria, em uma família de agricultores e comerciantes. Sua infância foi marcada pelos "horrores" da guerra civil, comumente chamada de Guerra do Biafra, que devastou a região entre 1967 e 1970 e ceifou pelo menos um milhão de vidas civis.
Arquiteto de formação, o escritor e poeta se envolveu inicialmente na defesa dos direitos humanos e na oposição às autoridades militares do país, antes de trabalhar lado a lado com Ken Saro-Wiwa, um "mártir da justiça ambiental" que foi enforcado pelo regime militar de Sani Abacha em 1995 por sua luta contra os abusos das empresas petrolíferas no Delta.
Após mais de três décadas de ativismo, as demandas permanecem as mesmas: responsabilizar governos e empresas poluidoras, restaurar o meio ambiente e pagar indenizações às pessoas afetadas.
Com sua fundação de quase 30 anos, a Health of Mother Earth, Bassey apoia uma ação movida por um monarca tradicional contra a gigante petrolífera britânica Shell, exigindo US$ 2 bilhões em indenização.
O rei Bubaraye Dakolo também busca impedir a Shell de se desfazer de seus ativos na Nigéria sem reparar décadas de poluição.
As petrolíferas sempre negam as alegações de poluição, argumentando que os vazamentos de petróleo foram causados por sabotagem de criminosos locais.
Apesar de acreditar que a situação piora a cada dia, Bassey afirma que ainda há esperança, graças a uma nova leva de jovens ativistas em ascensão.
"Há uma grande onda de pessoas se levantando... jovens se levantando", disse ele.
"Estou realmente muito inspirado. Isso é positivo."
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