Eunice Paiva: luta, legado e desafios contemporâneos - Brasil - OPINIÃO 11/03/2025
- Ana Cunha-Busch
- 10 de mar.
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de mar.

Eunice Paiva: luta, legado e desafios contemporâneos - Brasil
Os olhos do mundo se voltaram para o Brasil no início deste mês, em um momento de celebração, com a premiação inédita no Oscar do filme Ainda Estou Aqui. Durante toda a campanha do Oscar, os envolvidos - atores, diretores, produtores - reforçaram a figura de Eunice Paiva como central para essa indicação e, em seu discurso de premiação, Walter Salles mais uma vez fez questão de elogiá-la. Ganhar um Oscar em pleno Carnaval é motivo de comemoração dupla, mas ganhar um Oscar por retratar a história de uma mulher como Eunice Paiva a poucos dias do Dia Internacional da Mulher é de arrepiar!
Embora o filme retrate o papel da senhora como esposa, mãe e ativista contra a violência durante a ditadura militar no Brasil, há um aspecto de sua vida que foi ignorado no filme, mas que é extremamente importante no contexto ambiental e social do Brasil: sua luta pelos direitos indígenas.
Eunice Paiva foi uma ativista pelos direitos dos povos indígenas e se tornou a primeira especialista em direito indígena do Brasil. Seu trabalho, juntamente com seus parceiros, foi essencial para a inclusão dos direitos dos povos indígenas na Constituição Federal de 1988 e para a demarcação e regularização das terras indígenas no país.
No âmbito social, a contribuição de Eunice é evidente, pois está diretamente relacionada aos resultados obtidos. Ambientalmente, porém, essa relação é indireta: ao lutar pelo direito à terra dos povos indígenas, bem como pela valorização dos conhecimentos e práticas indígenas, Eunice estava indiretamente lutando pela preservação e recuperação ambiental, pelo uso sustentável dos recursos naturais e pelo direito de todos a um meio ambiente equilibrado.
Devemos muito à Eunice Paiva - e a outras Eunices, conhecidas ou anônimas, da nossa história. Mas o que estamos fazendo com esse “dever”? Constantemente me pergunto o que Eunice Paiva diria ao ver os cidadãos brasileiros protestando contra a volta da ditadura, a ameaça de golpe que pairou sobre o Brasil em um passado recente, o retrocesso socioambiental representado pelo Marco Temporário das Terras Indígenas, o direito ao ensino presencial dos povos indígenas ameaçado no estado do Pará, entre tantas outras situações que ameaçam nossa sociedade.
Homenagear sua história, contada nas telas de cinema, é necessário porque resgata nossa memória, evita o apagamento do que foi a ditadura e nos inspira a ver uma mulher retratada como porta-voz da luta e da resistência. Entretanto, homenagear a história da senhora vai muito além de assistir a um filme ou torcer por um prêmio. A todos que se emocionaram com o filme, faço um convite: vamos homenagear a luta de Eunice Paiva?
Petição Pública Brasil: Não ao Marco Temporário - meta de 500.000 assinaturas
Greenpeace: Os direitos dos povos indígenas não podem ser negociados - meta de 150.000 assinaturas
Por Ana Letícia R. Ferro
SDGs 1; 2; 4; 5; 10; 16 e 17





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