Metas de zero emissões líquidas de gigantes da tecnologia beiram a fantasia: pesquisadores 26/06/2025
- Ana Cunha-Busch
- 25 de jun.
- 3 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
Metas de zero emissões líquidas de gigantes da tecnologia beiram a fantasia: pesquisadores
Marlowe HOOD
A credibilidade das promessas climáticas das gigantes da tecnologia do mundo de se tornarem rapidamente neutras em carbono está diminuindo rapidamente, à medida que consomem cada vez mais energia na corrida para desenvolver IA e construir data centers, alertaram pesquisadores na quinta-feira.
Apple, Google e Meta disseram que parariam de adicionar CO2 à atmosfera até 2030, enquanto a Amazon estabeleceu essa meta para 2040.
A Microsoft prometeu ser "líquida negativa" — retirando CO2 do ar — até o final desta década.
Mas essas promessas, feitas antes do boom da IA transformar o setor, estão começando a parecer uma fantasia, mesmo com essas empresas redobrando suas apostas, de acordo com analistas independentes.
"As metas de emissões de gases de efeito estufa das empresas de tecnologia parecem ter perdido o sentido", disse Thomas Hay, principal autor de um relatório dos think tanks Carbon Market Watch e NewClimate Institute, à AFP.
"Se o consumo de energia continuar a aumentar descontroladamente e sem supervisão adequada", acrescentou, "essas metas provavelmente serão inatingíveis".
A análise aprofundada concluiu que a integridade geral das estratégias climáticas da Meta, Microsoft e Amazon era "ruim", enquanto as da Apple e da Microsoft foram consideradas "moderadas".
Quanto à qualidade das metas de redução de emissões, as da Meta e da Amazon foram consideradas "muito ruins", enquanto as do Google e da Microsoft receberam a classificação "ruim". Apenas a Apple se saiu melhor.
A crescente pegada de carbono das cinco maiores gigantes da tecnologia decorre principalmente da expansão vertiginosa da inteligência artificial, que requer enormes quantidades de energia para se desenvolver e operar.
O consumo de eletricidade — e as emissões de carbono que o acompanham — dobrou para algumas dessas empresas nos últimos três ou quatro anos e triplicou para outras, segundo o relatório.
O mesmo se aplica a todo o setor: as emissões operacionais das 200 maiores empresas de tecnologia da informação do mundo foram de quase 300 milhões de toneladas de CO2 em 2023, e quase cinco vezes mais se o uso posterior de produtos e serviços for levado em consideração, de acordo com a União Internacional de Telecomunicações da ONU.
Se o setor fosse um país, ocuparia o quinto lugar em emissões de gases de efeito estufa, à frente do Brasil.
A eletricidade para alimentar data centers aumentou em média 12% ao ano de 2017 a 2024 e a projeção é de que dobre até 2030, de acordo com a AIE.
- "Bastante desregulamentado"
Se toda essa energia extra viesse da energia solar e eólica, as emissões de CO2 não estariam aumentando.
Mas, apesar dos planos ambiciosos de obter energia de fontes renováveis, grande parte dela ainda não é neutra em carbono.
Estudos estimam que metade da capacidade computacional dos data centers de empresas de tecnologia vem de subcontratados, mas muitas empresas não contabilizam essas emissões, aponta o estudo.
O mesmo se aplica a toda a cadeia de suprimentos de infraestrutura e equipamentos, que responde por pelo menos um terço da pegada de carbono das empresas de tecnologia.
"Há muito investimento em energia renovável, mas, no geral, isso não compensou a sede do setor por eletricidade", disse Day.
Dado o status da IA como impulsionadora do crescimento econômico e até mesmo como vetor de políticas industriais, é improvável que os governos restrinjam a expansão do setor, observou o relatório.
"Até agora, todo o boom da IA tem sido bastante desregulamentado", disse Day.
"Há medidas que essas empresas podem e farão para se preparar para o futuro, para garantir que estejam caminhando na direção certa" em relação às metas climáticas, acrescentou.
"Mas quando se trata de decisões que essencialmente restringiriam o crescimento do modelo de negócios, não vemos nenhuma indicação de que isso possa acontecer sem ação regulatória."
O relatório identifica diversas maneiras pelas quais o setor de tecnologia pode reduzir sua pegada de carbono, mesmo com o rápido desenvolvimento da IA.
Garantir que os data centers — tanto os das empresas quanto os de parceiros terceirizados — funcionem com eletricidade renovável é crucial.
Aumentar a vida útil dos dispositivos e expandir o uso de componentes reciclados na produção de hardware também pode fazer uma grande diferença.
Por fim, os métodos usados para calcular as metas de redução de emissões estão desatualizados e precisam ser revisados, afirma o relatório.
mh-dax/phz





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