O paradoxo da água no Brasil - OPINIÃO 29/09/2025
- Ana Cunha-Busch
- 28 de set.
- 2 min de leitura
O paradoxo da água no Brasil OPINIÃO
29/09/2025
O Brasil é um país rico em recursos hídricos — abriga cerca de 12% da água doce superficial do planeta. E, ainda assim, cerca de 32 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável, enquanto aproximadamente 90 milhões não contam com tratamento de esgoto, Serviços e Informações do Brasil+1.
Esse contraste evidencia o grande paradoxo brasileiro: abundância natural de um lado, exclusão persistente do outro.
Por que isso persiste?
A raiz do problema não está na escassez, mas na falta de prioridade, infraestrutura e equidade social:
● Em 2021, 84% da população tinha acesso à água potável, mas apenas 56% contavam com saneamento adequado, IDB Invest.
● Mesmo com investimentos, cada ponto percentual de expansão de cobertura reduz hospitalizações por doenças hídricas em 0,35 casos por 10.000 habitantes, e diminui os gastos públicos em saúde em 1,5%, um impacto significativo IDB Invest+1.
O impacto na saúde e na educação
As deficiências em água, saneamento e higiene (WASH) continuam provocando mortes, contaminação e evasão escolar — especialmente entre crianças:
● Apenas em 2019, o acesso seguro ao WASH poderia ter evitado mais de 1 milhão de mortes e 55 milhões de DALYs (anos de vida ajustados por incapacidade) globalmente IDB Invest+8Wikipedia+8UNICEF+8.
● No Brasil, hospitalizações por diarreia e outras doenças relacionadas somam significativa parcela dos gastos hospitalares, especialmente entre crianças menores de cinco anos. PMC+2agenciabrasil.ebc.com.br+2.
Há caminhos que já mostram que é possível avançar
Em várias comunidades do país, iniciativas simples e contextualizadas já vêm fazendo diferença:
● Tecnologias de purificação de baixo custo, sistemas coletivos adaptados para realidades locais, saneamento ecológico e filtros comunitários têm mostrado redução de contaminação e melhora substancial na saúde — quando promovem acesso e são replicáveis no tempo.
● Esses modelos nascem da escuta às pessoas, do uso do que se tem à mão e do aprendizado junto à comunidade — um processo lento, porém sustentável.
Transformar o paradoxo em oportunidade
Esse desafio exige mais do que tecnologia: requer políticas públicas consistentes, regulação eficaz e comprometimento real de governos e empresas. Só assim desafios pontuais se transformam em movimentos de mudança estrutural.
Mais que um direito básico, água limpa é sinônimo de saúde, dignidade e futuro. O verdadeiro obstáculo não está na natureza, mas em nossa capacidade de enxergar soluções que já existem, escalá-las e torná-las história.
Anna Luisa Beserra
ODS: ODS 6, ODS 3, ODS 10, ODS 11