O vasto lago da Etiópia está sendo bombeado até secar 12/06/2025
- Ana Cunha-Busch
- 12 de jun.
- 3 min de leitura
Por AFP - Agence France Presse
O vasto lago da Etiópia está sendo bombeado até secar
Dylan GAMBA
Há um zumbido constante ao redor do enorme Lago Dembel, na Etiópia - o som de sua água sendo constantemente sugada por bombas.
As bombas irrigam fazendas ao redor do lago, que tem quatro vezes o tamanho de Manhattan, e são vitais para o sustento de centenas de milhares de pessoas.
A Etiópia já perdeu pelo menos um grande lago - o Haramaya, localizado no leste do país - devido ao bombeamento excessivo.
Agora, corre o risco de perder outro.
A profundidade do Lago Dembel caiu pela metade desde 1990, de quatro metros para dois (13 pés para mais de seis), de acordo com a Wetlands International, uma ONG.
“Se as coisas continuarem assim, o lago poderá desaparecer”, disse o gerente de projetos da ONG, Desalegn Regassa.
O bombeamento pelos agricultores e pela indústria não é o único problema do lago. O uso intenso de pesticidas também está matando os peixes, segundo os moradores locais e a ONG.
Belachew Derib pesca no lago desde a década de 1980, mas diz que os estoques estão desaparecendo.
Há milhares de bombas funcionando 24 horas por dia para usar a água na agricultura e na indústria.
“Construí minha casa graças à renda da pesca e sustento meus três filhos com esse trabalho”, disse Belachew, 60 anos, à AFP, enquanto remava seu pequeno barco para puxar as redes.
"Antigamente, conseguíamos pescar de 20 a 30 peixes por dia. Hoje em dia, os jovens pescadores têm sorte de pegar dois ou três", disse ele.
A apenas algumas dezenas de metros da margem, a AFP encontrou Habib Bobasso, 35 anos, cobrindo generosamente sua pequena plantação de cebolas com pesticidas de uma bomba amarrada às costas.
“Há muitos vermes que podem danificar as plantas... podemos perder toda a colheita”, disse ele enquanto pulverizava, com apenas um xale para cobrir o rosto.
Ele sabe que os pesticidas são prejudiciais, mas não vê alternativa.
"Os fertilizantes e pesticidas que usamos degradam o solo. Gastamos muito dinheiro em fertilizantes e produtos químicos para um rendimento baixo", disse ele.
A gestão da água é essencial para a Etiópia, um gigante sem litoral na África Oriental, com uma população em rápido crescimento, já estimada em mais de 130 milhões de pessoas, e que frequentemente é atingida por secas.
Mas a falta de fundos e de supervisão governamental permitiu que as práticas ruins continuassem por décadas.
Um relatório recente do Stockholm International Water Institute culpou as “estruturas políticas sem brilho” da Etiópia pelo “desaparecimento do Lago Haramaya, o encolhimento do Lago Abijata (e) a poluição do Rio Awash e dos Lagos Ziway e Hawassa”.
Ultimamente, o governo tem dado sinais de que está levando o problema a sério.
No início deste ano, aprovou uma lei que impõe uma taxa para extrair água do Lago Dembel, que fica a cerca de 120 quilômetros (75 milhas) ao sul da capital, Adis Abeba.
Um funcionário local, Andualem Gezahegne, disse à AFP que esperava que isso reduzisse as bombas.
A Wetlands International disse que havia cerca de 6.000 bombas instaladas ao redor do lago no ano passado, funcionando 24 horas por dia, e “talvez mais hoje”.
A AFP testemunhou dois enormes caminhões-tanque abastecendo para um projeto de rodovia próxima durante uma visita recente.
Manter a pesca sob controle é outro desafio, disse Andualem.
“Infelizmente, o pico da atividade pesqueira coincide com os períodos de desova dos peixes, de janeiro a maio”, disse ele.
Na superfície, o lago ainda está cheio de vida, de hipopótamos a cegonhas marabu.
Mas, quando os pescadores saem ao amanhecer, o zumbido constante das bombas dá um tom ameaçador para o futuro.
dyg/er/kjm
Comentários