Os indianos compram 14 milhões de aparelhos de ar condicionado por ano e precisam de muitos mais 12/05/2025

Um recorde de 14 milhões de aparelhos de ar condicionado foi vendido na Índia no ano passado, com uma previsão de aumento de nove vezes na aquisição residencial até meados do século (Sajjad HUSSAIN)Sajjad HUSSAIN/AFP/AFP

Por AFP - Agence France Presse

Os indianos compram 14 milhões de aparelhos de ar condicionado por ano e precisam de muitos mais

Abhaya SRIVASTAVA

Aarti Verma está prestes a se juntar ao crescente número de indianos que instalam ar condicionado, juntando suas economias para garantir alívio das temperaturas às vezes mortais, que podem chegar a quase 50 graus Celsius.

Um recorde de 14 milhões de aparelhos de ar condicionado foi vendido na Índia no ano passado, com uma previsão de aumento de nove vezes na aquisição residencial até meados do século. Isso proporcionará a milhões de pessoas condições mais seguras e confortáveis no trabalho e em casa.

Mas também aumentará a demanda por eletricidade, gerada principalmente pela queima de carvão, que contribui para o aquecimento global, e aumentará a quantidade de ar quente expelido pelos aparelhos de ar condicionado nas ruas sufocantes do país.

Para Verma, a prioridade é garantir algum alívio imediato.

Seu trabalho em vendas e marketing exige que ela visite várias lojas por dia, enfrentando o calor intenso.

“Ao chegar em casa após um longo dia, desejo algum conforto”, disse a jovem de 25 anos, que ganha 30.000 rúpias (US$ 350) por mês e pagará 50.000 rúpias (US$ 584) para instalar ar condicionado em sua casa simples de dois cômodos.

“Antes, eu dormia no terraço, mas hoje em dia faz tanto calor que mesmo à noite o ar condicionado se tornou uma necessidade”, disse ela à AFP em um bairro pobre da capital, Delhi.

A Índia é o mercado de ar condicionado que mais cresce no mundo, apesar de apenas cerca de 7% dos lares possuírem aparelhos atualmente.

O boom pode significar que o país mais populoso do mundo precisará triplicar sua produção de eletricidade para atender à demanda, dizem especialistas.

O país de 1,4 bilhão de habitantes já é o terceiro maior produtor mundial de gases de efeito estufa, que aquecem o clima, queimando 1 bilhão de toneladas de carvão em 2024-25, de acordo com um comunicado do governo.

- Verão brutal

“A penetração do ar condicionado na Índia é impulsionada principalmente pelas condições climáticas, uma classe média em crescimento, opções favoráveis de financiamento ao consumidor e eletrificação generalizada“, disse K.J. Jawa, chefe da fabricante japonesa de ar condicionado Daikin na Índia.

“Hoje, os aparelhos de ar condicionado não são mais considerados um luxo, mas um investimento em produtividade e necessidade, já que uma boa noite de sono é fundamental para o nosso bem-estar físico e mental”, disse ele à AFP.

Verma teve que pagar 13.000 rúpias (US$ 150) como entrada, com o restante dividido em parcelas mensais.

“Eu poderia ter comprado ouro com esse dinheiro, o que teria sido um bom investimento, mas dei prioridade ao ar condicionado”, disse ela.

De acordo com o departamento meteorológico, 2024 foi o ano mais quente da Índia desde o início dos registros, em 1901, com temperaturas escaldantes seguindo um padrão global de clima extremo impulsionado pelas mudanças climáticas.

Uma onda de calor em maio de 2024 em Nova Délhi registrou temperaturas que igualaram o recorde anterior da capital: 49,2 graus Celsius (120,5 graus Fahrenheit), registrado em 2022.

O calor brutal do verão pode derreter o asfalto das estradas e colocar milhões de pessoas em risco, com quase 11.000 mortes por insolação na Índia entre 2012 e 2021, de acordo com dados do governo.

Especialistas em saúde pública afirmam que o número real de mortes relacionadas ao calor provavelmente chega a milhares, mas como o calor muitas vezes não é listado como causa na certidão de óbito, muitas vítimas não são contabilizadas nos números oficiais.

Ironicamente, os refrigerantes dentro dos aparelhos de ar condicionado e a eletricidade gerada a carvão que os alimenta apenas exacerbam o aquecimento global. O uso generalizado do ar condicionado também aumenta a temperatura externa ao expelir o calor interno.

Estudos — incluindo os da Organização Mundial da Saúde e da ONU-Habitat — mostram que os motores geradores de calor dentro dos aparelhos de ar condicionado podem, por si só, elevar as temperaturas nas áreas urbanas em um grau Celsius ou mais.

- Classificações energéticas

Antes de comprar um ar condicionado, Verma dependia de um refrigerador de ar tradicional — um aparelho barulhento movido a ventilador que sopra ar frio de almofadas embebidas em água.

Mas encher o refrigerador com água e garantir que ele não se tornasse um refúgio para mosquitos transmissores de doenças exigia muito esforço.

As vendas estão aquecidas na Imperial Refrigeration, no bairro antigo de Delhi, com um fluxo constante de clientes enfrentando o calor da tarde.

Jasahib Singh Ahuja, 22, cuja família é proprietária do negócio há 50 anos, disse que as vendas mais que triplicaram nos últimos cinco anos, graças aos consumidores de primeira viagem e aos “ciclos de substituição” de aparelhos de ar condicionado.

“Os aparelhos de ar condicionado hoje em dia não duram muito, porque há muitos poluentes no ar de Delhi que causam corrosão e vazamento de gás dos equipamentos”, explicou ele.

Delhi e a área metropolitana ao redor, onde vivem mais de 30 milhões de pessoas, estão consistentemente no topo do ranking mundial de poluição do ar.

O ar condicionado será responsável por um quarto das emissões da Índia e quase metade da demanda máxima de eletricidade em todo o país até 2050, de acordo com a Cool Coalition do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Mas a Índia até agora se recusou a assinar o Compromisso Global de Resfriamento da coalizão para reduzir o impacto climático do setor.

Ainda assim, há sinais de esperança, com os indianos comprando cada vez mais aparelhos de ar condicionado com eficiência energética, de acordo com Ahuja.

Os aparelhos de ar condicionado com inversor de energia agora dominam o mercado, e as empresas definiram uma temperatura padrão de 24 graus Celsius.

“As classificações energéticas agora são obrigatórias”, disse Ahuja. ”Certamente veremos benefícios a longo prazo.”

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