Prova de Vida: Rastreando Grupo Esquivo da Amazônia para Salvar suas Terras. 24/07/2025
- Ana Cunha-Busch
- 23 de jul.
- 3 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
Prova de Vida: Rastreando Grupo Esquivo da Amazônia para Salvar suas Terras
Por Carlos Fabal com Facundo Fernandez Barrio em São Paulo
Um pote de cerâmica e o casco de uma tartaruga, outrora caçada por sua carne, são os vestígios mais recentes de uma comunidade indígena que se acredita viver nas profundezas da Amazônia norte brasileira.
Descobertas arqueológicas como essas continuam surgindo e datam de pelo menos 2009, com membros de um clã vizinho afirmando ter avistado indivíduos que vivem na região de Ituna/Itata, no norte do estado do Pará.
Por enquanto, o povo anônimo e esquivo — talvez pertencente a mais de um grupo — permanece entre as dezenas de comunidades ditas "isoladas" que, acredita-se, vagam pela maior floresta tropical do mundo.
"Minha cunhada me disse: 'Ali! Ali!' E era um garotinho me olhando de perto", contou Takamyi Asurini, um ancião de Ita'aka — uma aldeia indígena com cerca de 300 habitantes, cujos relatos de encontros próximos alimentaram teorias sobre a existência de povos isolados em Ituna/Itata.
Asurini mostrou à AFP uma cicatriz em suas costelas que, segundo ele, foi resultado de uma flechada disparada por uma pessoa desconhecida na selva.
Tais depoimentos e os objetos encontrados não são considerados prova da existência de pessoas em Ituna/Itata.
Mas é suficiente para que a região goze de um status de proteção provisória, destinado a impedir invasões de garimpeiros, madeireiros e fazendeiros — preservando tanto a floresta quanto as pessoas que supostamente vivem lá.
A área abrange dezenas de milhares de hectares e é semelhante em tamanho a São Paulo — a maior cidade da América Latina.
Tornou-se uma das terras indígenas mais invadidas do Brasil durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, um apoiador da agroindústria sob cuja gestão o desmatamento na Amazônia disparou.
Agora, grupos de lobby querem que a proteção da região de Ituna/Itata seja permanente, o que significaria regras de uso da terra mais rígidas e fiscalização.
Para que isso aconteça, a Fundação Nacional do Índio (Funai) teria que enviar expedições em busca de provas inegáveis da existência do grupo.
Parte do desafio é que a densa floresta amazônica abriga ecossistemas ricos e variados que sustentam a agricultura migratória dos povos indígenas, que podem viajar para caçar, pescar e coletar alimentos sazonalmente.
Por lei, qualquer pessoa que faça buscas não pode entrar em contato com eles — potencialmente colocando-os em risco de doenças às quais não têm imunidade —, mas deve procurar vestígios de sua vida na floresta.
O Brasil reconhece 114 grupos indígenas "isolados" que vivem com pouca ou nenhuma interação com outros povos.
Cerca de um quarto deles está "confirmado", enquanto para os demais — como em Ituna/Itata — há "fortes evidências" de sua existência.
Para Luiz Fernandes, membro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), há um "descaso histórico" com a questão por parte do Estado, que, segundo ele, "reconhece a possibilidade da existência desses povos, mas não garante medidas efetivas de proteção do território".
Mita Xipaya, ativista indígena, acrescentou: "o Estado precisa de registros qualificados" para comprovar que uma área abriga povos isolados, "mas para nós é diferente: nós os percebemos na natureza, nos sons que ouvimos, em suas presenças, às vezes em seus cheiros".
A Amazônia brasileira perdeu quase um terço de sua vegetação nativa desde o início dos registros em 1988, de acordo com a ONG ambiental Instituto Socioambiental — exceto em terras indígenas, onde o número é inferior a 2%.
De 2019 a 2022, o governo Bolsonaro suspendeu as medidas provisórias de proteção decretadas para Ituna/Itata, o que levou à invasão de grileiros, tornando-a a área indígena mais desmatada do Brasil.
Embora a proteção tenha sido restabelecida sob seu sucessor de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, as consequências persistem, e trechos quilométricos de solo devastado intercalam áreas de floresta tropical verde, observou a AFP durante um sobrevoo recente.
O Brasil sediará em novembro a conferência climática da ONU, COP30, na cidade amazônica de Belém, no governo Lula, que busca se posicionar como líder na preservação florestal e no combate ao aquecimento global.
"Não se trata apenas de cuidar da floresta, mas também das pessoas que a habitam, porque é por meio delas que a floresta se mantém de pé", disse à AFP Toya Manchineri, coordenadora da COIAB.
ffb/mlr/sla
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