Quase 900 milhões de pessoas pobres estão expostas a choques climáticos, alerta a ONU. 18/10/2025.
- Ana Cunha-Busch
- 17 de out.
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Por AFP - Agence France Presse
Quase 900 milhões de pessoas pobres estão expostas a choques climáticos, alerta ONU
Por Amélie BOTTOLLIER-DEPOIS
A próxima cúpula do clima da ONU no Brasil é o momento para os líderes mundiais encararem a ação climática como uma ação contra a pobreza, afirma a ONU (MUKESH GUPTA)
Quase 80% dos mais pobres do mundo, ou cerca de 900 milhões de pessoas, estão diretamente expostas a riscos climáticos agravados pelo aquecimento global, suportando um "fardo duplo e profundamente desigual", alertou a ONU na sexta-feira.
"Ninguém está imune aos efeitos cada vez mais frequentes e intensos das mudanças climáticas, como secas, inundações, ondas de calor e poluição do ar, mas são os mais pobres entre nós que enfrentam o impacto mais severo", disse Haoliang Xu, administrador interino do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em um comunicado à AFP.
A COP30, a cúpula climática da ONU que acontece no Brasil em novembro, "é o momento para os líderes mundiais encararem a ação climática como uma ação contra a pobreza", acrescentou.
De acordo com um estudo anual publicado pelo PNUD em conjunto com a Iniciativa Oxford para a Pobreza e o Desenvolvimento Humano, 1,1 bilhão de pessoas, ou cerca de 18% dos 6,3 bilhões em 109 países analisados, vivem em pobreza "multidimensional aguda", com base em fatores como mortalidade infantil e acesso a moradia, saneamento, eletricidade e educação.
Metade dessas pessoas são menores de idade.
Um exemplo dessa privação extrema citado no relatório é o caso de Ricardo, membro da comunidade indígena Guarani que vive nos arredores de Santa Cruz de la Sierra, a maior cidade da Bolívia.
Ricardo, que ganha uma renda escassa como diarista, divide sua pequena casa unifamiliar com outras 18 pessoas, incluindo seus três filhos, pais e outros parentes.
A casa tem apenas um banheiro, uma cozinha a lenha e carvão, e nenhuma das crianças frequenta a escola.
"Suas vidas refletem as realidades multidimensionais da pobreza", afirma o relatório.
Duas regiões particularmente afetadas por essa pobreza são a África Subsaariana e o Sul da Ásia — e também são altamente vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas.
O relatório destaca a conexão entre pobreza e exposição a quatro riscos ambientais: calor extremo, seca, inundações e poluição do ar.
"Famílias empobrecidas são especialmente suscetíveis a choques climáticos, pois muitas dependem de setores altamente vulneráveis, como agricultura e trabalho informal", afirma o relatório.
"Quando os riscos se sobrepõem ou se repetem, eles agravam as privações existentes."
Como resultado, 887 milhões de pessoas, ou quase 79% dessas populações pobres, estão diretamente expostas a pelo menos uma dessas ameaças, com 608 milhões sofrendo com calor extremo, 577 milhões afetados pela poluição, 465 milhões por inundações e 207 milhões por secas.
Aproximadamente 651 milhões estão expostos a pelo menos dois desses riscos, 309 milhões a três ou quatro riscos, e 11 milhões de pessoas pobres já vivenciaram todos os quatro em um único ano.
"A pobreza e os riscos climáticos concomitantes são claramente uma questão global", afirma o relatório.
E o aumento de eventos climáticos extremos ameaça o progresso do desenvolvimento.
Embora o Sul da Ásia tenha progredido no combate à pobreza, 99,1% de sua população pobre está exposta a pelo menos um risco climático.
A região "deve, mais uma vez, traçar um novo caminho, que equilibre a redução determinada da pobreza com ações climáticas inovadoras", afirma o relatório.
Com a superfície da Terra esquentando rapidamente, a situação provavelmente piorará ainda mais, e especialistas alertam que os países mais pobres da atualidade serão os mais afetados pelo aumento das temperaturas.
"Responder a riscos sobrepostos exige priorizar tanto as pessoas quanto o planeta e, acima de tudo, passar do reconhecimento para a ação rápida", afirma o relatório.
abd/md/sst





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