Rock on: como a brita pode ajudar a combater as mudanças climáticas 24/06/2025
- Ana Cunha-Busch
- 23 de jun.
- 4 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
Rock on: como a brita pode ajudar a combater as mudanças climáticas
Sara HUSSEIN
De plantações de açúcar no Brasil a plantações de chá na Índia, a brita está sendo espalhada por grandes extensões de terras agrícolas em todo o mundo, em uma nova tentativa de combater as mudanças climáticas.
A técnica é chamada de Intemperismo Aprimorado de Rochas (ERW) e visa acelerar a captura e o armazenamento natural de dióxido de carbono — um gás de efeito estufa que aquece o planeta.
É potencialmente um grande negócio, com gigantes da tecnologia, companhias aéreas e empresas de fast fashion fazendo fila para comprar créditos de carbono de projetos de ERW para "compensar" ou cancelar suas emissões.
- O que é ERW?
O ERW visa turbinar um processo geológico natural chamado intemperismo.
O intemperismo é a decomposição de rochas pelo ácido carbônico, que se forma quando o dióxido de carbono no ar ou no solo se dissolve na água.
O intemperismo ocorre naturalmente quando a chuva cai sobre as rochas, e o processo pode reter dióxido de carbono do ar ou do solo na forma de bicarbonato e, eventualmente, calcário.
A ERG acelera o processo usando rochas de intemperismo rápido, como o basalto, que são moídas finamente para aumentar sua área de superfície.
- Qual a eficácia da ERG? -
A ERG ainda é uma tecnologia relativamente nova e há dúvidas sobre a quantidade de carbono que ela pode remover.
Um estudo americano descobriu que a aplicação de 50 toneladas de basalto em um hectare de terra a cada ano pode remover até 10,5 toneladas de dióxido de carbono por hectare em um período de quatro anos.
Mas cientistas que aplicaram basalto em plantações de dendezeiros na Malásia e canaviais na Austrália registraram taxas de remoção muito menores.
"Testes de campo mostram que houve superestimativas da quantidade e da taxa capturadas", disse Paul Nelson, cientista do solo da Universidade James Cook que estudou a ERG.
As taxas dependem de variáveis como o tipo e o tamanho da rocha, o quão úmido e quente é o clima, o tipo de solo e o manejo da terra.
E medir o carbono capturado é difícil.
A técnica mais popular mede "cátions", íons carregados positivamente que são liberados da rocha durante o intemperismo.
Mas esses cátions são produzidos independentemente do ácido com o qual a rocha reagiu.
"Se houver ácidos mais fortes que o carbônico, ela reagirá com eles", disse Nelson, portanto, cátions mensuráveis são produzidos mesmo quando o dióxido de carbono não é capturado.
Isso não significa que a Remoção de Carbono Errante (ERW) seja inútil, disse Wolfram Buss, pesquisador em remoção de dióxido de carbono na Universidade Nacional Australiana, apenas que ela precisa ser cuidadosamente calibrada e medida.
"Não há dúvida de que essa técnica funciona", disse ele.
"No entanto, para ter certeza de quanto dióxido de carbono realmente removemos, mais financiamento é necessário para realizar estudos fundamentais."
- Existem outros benefícios?
A rocha adicionada aumenta a alcalinidade do solo, o que pode impulsionar o crescimento das culturas, os nutrientes do solo e a formação do solo.
O basalto é naturalmente abundante e frequentemente disponível como subproduto da extração de minerais, reduzindo os custos do processo.
Especialistas observam que, mesmo que a rocha reaja com outros ácidos do solo, sem conseguir reter o dióxido de carbono nesse estágio, ela ainda pode trazer benefícios planetários.
Isso ocorre porque, de outra forma, os ácidos do solo acabariam chegando aos rios e ao mar, onde a acidificação leva à liberação de dióxido de carbono.
Se a rocha neutralizar esse ácido no solo, "você evita que o dióxido de carbono seja liberado da água para a atmosfera a jusante", disse Nelson.
A escala dessas possíveis emissões "evitadas" ainda não está clara.
- Quais são os riscos?
A ERW é amplamente considerada segura, pois apenas acelera um processo natural existente. No entanto, algumas rochas de intemperismo rápido apresentam altos níveis de metais pesados potencialmente tóxicos.
A dispersão de rochas finamente moídas também exige equipamentos de proteção adequados para os envolvidos.
Mas o principal risco é que medições incorretas superestimem o carbono capturado.
Alguns projetos já estão vendendo créditos de carbono da ERW. Se uma empresa comprar um crédito ERW para "compensar" suas emissões, mas o processo capturar menos do que o projetado, isso poderá resultar em uma emissão líquida maior de dióxido de carbono na atmosfera.
- Onde o ERW está sendo realizado?
Projetos estão sendo realizados na maior parte do mundo, incluindo Europa, América do Norte, América Latina e Ásia.
No início deste ano, um projeto no Brasil anunciou ter entregue os primeiros créditos de remoção de carbono verificados de um projeto ERW.
O processo está sendo usado ou testado em ambientes agrícolas, desde plantações de chá em Darjeeling, na Índia, até plantações de soja e milho nos EUA.
- Qual o interesse dos investidores?
Uma startup de ERW — a Mati Carbon, que atua na Índia — ganhou o prêmio X Prize de US$ 50 milhões para projetos de remoção de carbono no início deste ano.
Em dezembro, o Google anunciou o que era então o maior acordo de ERW do mundo, para 200.000 toneladas de créditos de remoção de carbono, a serem entregues até o início da década de 2030 pela startup Terradot.
O custo do negócio não foi divulgado, mas um acordo separado da Terradot com uma empresa que representa empresas como a H&M vendeu 90.000 toneladas por US$ 27 milhões.
sah/cwl/pst





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