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A Transição Verde e Digital com Equidade: por que este é o tema mais urgente do nosso tempo - OPINIÃO 08/12/2025

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    Ana Cunha-Busch
  • 7 de dez.
  • 5 min de leitura
AI PHOTO ChatGPT
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A Transição Verde e Digital com Equidade: por que este é o tema mais urgente do nosso tempo


POR CLAUDIA ANDRADE


Há algum tempo venho me dedicando a estudar com atenção um conceito que, embora pareça técnico à primeira vista, toca diretamente a vida de cada pessoa, cada comunidade e cada organização: a Transição Verde e Digital com Equidade.


Quanto mais eu aprofundo essa análise, mais compreendo que esse não é apenas um novo termo da agenda internacional — é, na verdade, um marco civilizatório. Um divisor de águas entre o mundo que estamos deixando para trás e o mundo que ainda precisamos construir. É também um convite — e, de certa forma, um ultimato — para que repensemos como vivemos, produzimos, inovamos e convivemos.


E, diante disso, dificilmente consigo enxergar esse tema separado daquilo que tenho presenciado em campo durante todos esses anos: as desigualdades que atravessam territórios, a urgência climática que já não cabe mais em relatórios, a exclusão digital que silenciosamente amplia distâncias sociais, e os desafios de comunidades que ainda lutam pelo básico enquanto o resto do mundo discute inteligência artificial, descarbonização e hiperconectividade.


Quando falamos de “transição verde”, estamos nos referindo a um conjunto de mudanças profundas: energia limpa, gestão eficiente de recursos, redução das emissões, economia circular, restauração ecológica.


Já a “transição digital” nos leva a outro conjunto de transformações: automação, IA, big data, conectividade, digitalização de serviços, novas formas de trabalho e de produção de conhecimento.


Por muito tempo, tratamos essas duas transições como paralelas. Mas, como aponta o World Economic Forum, “não haverá transição verde bem-sucedida sem uma transição digital que a habilite — e não haverá transição digital justa sem uma lente social intencional”.

No fundo, são duas faces de um mesmo processo.


E o que as conecta — ou separa — é a equidade.

Sem equidade, toda inovação se torna uma fronteira. Toda solução vira privilégio. Toda transição deixa alguém para trás.


E é aqui que surge a pergunta que me atravessa todos os dias:

Quem está sendo incluído nessa transição? E quem está sendo apagado?


O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) relembra algo que deveríamos repetir como um mantra:

“Crises climáticas são crises de desigualdade”.


A ciência já nos mostrou: são as populações mais vulneráveis que mais sofrem com secas, enchentes, ondas de calor, insegurança hídrica e instabilidade econômica.


Da mesma forma, são essas populações que têm menos acesso à educação digital, menos infraestrutura tecnológica e menos condições para se adaptarem às novas demandas do mercado.


Ou seja: se não colocarmos a equidade como bússola, a transição verde e digital não será apenas insuficiente — será injusta.


E quando penso nisso, lembro de cada território em que estive.

Lembro dos quilombos onde a ausência de saneamento ainda define o limite das possibilidades.

Lembro de comunidades rurais onde um simples sinal de internet decide se uma criança terá ou não acesso à escola digital.

Lembro de localidades onde não há água potável, mas há conversas globais sobre cidades inteligentes e inteligência artificial generativa.

Essas contradições não são apenas dados.

São vidas.


E a forma como lidamos com elas define o tipo de sociedade que estamos construindo.


Muitas vezes, quando discutimos IA, data lakes, automação, blockchain ou conectividade, a conversa fica no campo técnico.

Mas, como diz a pesquisadora Ruha Benjamin, “A tecnologia não é neutra. Ela amplifica o que já existe.”


Se existe desigualdade, a tecnologia a amplia. Se existe racismo, a tecnologia o replica. Se existe exclusão, a tecnologia a automatiza.

Por isso, quando ouço o termo “transição digital”, penso antes em “transição humana”.


Porque o que está em jogo não é a ferramenta. É o propósito.

Não é o dado. É quem tem acesso a ele.

Não é o algoritmo. É quem o programa — e para quem ele serve.

Ao mesmo tempo, o potencial transformador é imenso.


A tecnologia pode democratizar direitos, facilitar acessos, destravar oportunidades, reduzir desigualdades históricas — se e somente se for orientada por princípios de justiça social.


Não existe neutralidade possível quando falamos de futuro.

A transição verde precisa da transição digital — e ambas precisam da transição social


Hoje, cresce entre especialistas do WEF, do Banco Mundial, da OCDE e de instituições brasileiras uma compreensão estruturante:

Não haverá desenvolvimento sustentável sem desenvolvimento humano.


E não haverá desenvolvimento humano sem equidade.


Um sistema de energia verde só será eficiente se alcançar as populações vulneráveis.


Um programa de conectividade só será transformador se garantir acesso real, e não apenas cobertura.


Um modelo de cidade sustentável só será sustentável se for também inclusivo.


Uma cadeia de inovação só será justa se gerar benefícios distribuídos.

A equidade não é o “ponto final” da transição.

É o “ponto de partida”.


Depois de tantos anos convivendo com comunidades de diferentes realidades, eu aprendi algo simples, mas poderoso:

As transições que “funcionam” são aquelas construídas com as pessoas, não para elas.


Quando uma comunidade participa de um processo, ela internaliza.

Quando uma comunidade escolhe, ela se responsabiliza.


Quando ela compreende, ela transforma. Quando ela se reconhece, ela cuida. E não há transição verde sem cuidado. Não há transição digital sem pertencimento. Não há inovação sem vínculo.


O que vejo no campo é que os territórios já carregam inteligência, soluções tradicionais, práticas sustentáveis ancestrais, redes de solidariedade e formas autênticas de adaptação que muitas vezes são invisibilizadas pelos discursos urbanos e corporativos.


A transição com equidade não é levar “o novo” para quem está distante.

É reconhecer que o novo também nasce de onde menos se espera.


A pergunta que precisamos fazer agora,

diante de tudo isso, a pergunta que me acompanha é:

Estamos construindo um futuro que amplia vidas ou um futuro que amplia desigualdades?


E, mais do que isso:

Quem está sentado à mesa quando esse futuro está sendo desenhado?


Se a transição verde e digital não incluir indígenas, quilombolas, ribeirinhos, trabalhadores rurais, juventudes periféricas, mulheres que lideram comunidades, pequenos produtores, povos tradicionais, crianças e jovens — ela não é transição; é privilégio reorganizado.

Para seguir adiante, precisamos de um pacto ético global e local.

Um pacto que afirmo com convicção:


Não existe sustentabilidade sem justiça social;


Não existe tecnologia sem humanidade;


Não existe inovação sem sensibilidade;


Não existe desenvolvimento sem equidade.


A transição verde e digital não pode ser apenas um “projeto técnico”.

Ela precisa ser um projeto humano.


Um projeto que ilumine ao invés de excluir.

Que conecte ao invés de aprofundar silêncios.

Que democratize ao invés de segregar.

Que fortaleça ao invés de acelerar desigualdades.

E, acima de tudo, um projeto capaz de garantir algo que parece simples, mas ainda é raro:


Que todas as pessoas, em todos os territórios, tenham direito ao futuro.



#ODS 10, 09, 13 e 16





@cauvic2

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