Brasil 2025: todo dia um 7x1 diferente! 23/07/2025 OPINIÃO
- Ana Cunha-Busch
- 22 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 23 de jul.

Brasil 2025: todo dia um 7x1 diferente!
Da derrota no futebol à tragédia ambiental — por que o Brasil continua ignorando sinais de alerta?
O ano era 2014. Eu estava no meu terceiro ano da faculdade, realizando um estágio de férias em um plantio silvicultural de guanandi (Callophylum brasiliense), espécie nativa medicinal e madeireira. Estava aprendendo, na prática, a manejar de forma produtiva uma espécie brasileira, a conservação pelo uso.
Eu estava feliz.
Finalizar o expediente mais cedo para retornar ao alojamento, tomar uma cerveja, comer uma pipoca e assistir ao Brasil em uma semifinal da Copa do Mundo. Me arrisco a dizer que essa era a definição de uma tarde feliz de todo o brasileiro que, como eu, assistiu à época de ouro do futebol brasileiro.
O que poderia dar errado?
Primeiro gol aos 11 minutos.
O segundo aos 23.
24. 26. 29. 69. 79. Mais cinco gols.
Ver ruir as esperanças de ir para a final e conquistar o hexa doeu e muito. Doeu em cada brasileiro que assistiu, doeu em quem ficou sabendo do resultado. Doeu até nas gerações futuras.
Onze anos depois, eu experimento uma dor similar, porém amplificada e com consequências muito piores do que perder o hexa.
2025. Brasil foi eleito para sediar a COP30, um dos maiores e mais importantes eventos mundiais que trata de meio ambiente e clima. Conferência onde líderes globais debatem e firmam acordos para mitigar e reverter a degradação ambiental mundial (ou o deveriam fazer).
Enquanto o Brasil se prepara para receber líderes mundiais na COP30 e posar com exemplo de liderança climática, internamente desmonta seus próprios mecanismos de proteção ambiental: o poder legislativo brasileiro aprovou, em 2025, em múltiplas instâncias, um projeto de lei carinhosamente apelidado pelas pessoas do meio técnico e acadêmico como “projeto de lei da devastação”.
Diferentemente do futebol, esse 7x1 veio na madrugada. O congresso agiu à espreita, em silêncio, como um predador.
O Brasil tem mesmo memória curta: mal completamos 40 anos do “Vale da Morte” e da implementação de técnicas para mitigar os efeitos danosos de empreendimentos ao meio ambiente e à sociedade e deixamos passar um projeto de lei que flexibiliza os mecanismos de monitoramento e controle desses empreendimentos.
E eu não sei o que esperar de um Brasil onde parte da população descredibiliza vacinas, pois elas são “fruto de interesses da indústria farmacêutica”; mas, ao mesmo tempo, acredita piamente que empreendimentos poluidores farão o devido controle para evitar que a poluição atinja níveis degradantes – mesmo após ter vivido Brumadinho, Mariana e Braskem no passado recente. Pior ainda: eu não sei o que esperar de um Brasil onde quem toma as decisões quer que as pessoas acreditem nisso.
O Brasil esquece todos os 7x1 que impactam, diária e diretamente nossa vida e nosso cotidiano.
O único 7x1 que permanece na nossa memória, infelizmente, é o futebol.
ODS 16, ODS 17
Ana Letícia de Rodrigues Ferro
Engenheira Florestal (FCA/UNESP Botucatu)
Especialista em Ecologia (FAMEESP)
Analista Ambiental (Irrigart Engenharia e Consultoria em Recursos Hídricos e Meio Ambiente)
E-mail corporativo: leticia@irrigart.com.br
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