COP30 - Entre o simbolismo e o desafio operacional - o que está em jogo? OPINIÃO 06/11/2025
- Ana Cunha-Busch
- 5 de nov.
- 3 min de leitura

COP30 - Entre o simbolismo e o desafio operacional - o que está em jogo?
Por Claudia Andrade
A COP30 será em Belém, no coração da Amazônia, e nunca uma conferência do clima carregou tanto simbolismo — e tanta responsabilidade. É impossível não sentir o peso dessa escolha. O mundo está olhando para nós. Para o Brasil. Para a floresta. Para o que faremos — ou deixaremos de fazer — quando o palco for nosso.
Há algo de bonito e, ao mesmo tempo, de perigoso nessa expectativa. Bonito porque o planeta reconhece o papel essencial da Amazônia na estabilidade climática global. Perigoso porque o risco da retórica é alto: transformar a floresta em cenário, sem que as decisões reflitam a realidade de quem vive nela. É como aplaudir um espetáculo sem notar que o chão do palco está desabando.
Nas últimas conferências, vimos avanços lentos, promessas recicladas, compromissos que soam bem nas manchetes, mas esbarram na prática. A COP30 chega, portanto, com uma missão dupla: recuperar a credibilidade do processo internacional e provar que a transição ecológica pode ser, sim, justa, viável e real. E isso precisa começar em Belém — não em Genebra, nem em Nova York.
O Brasil tem potencial para liderar esse novo ciclo. Temos biodiversidade, matriz energética limpa, vocação para soluções baseadas na natureza e um dos territórios mais ricos do planeta. Mas liderança, no mundo atual, não se mede por discursos, e sim por coerência. É isso que o mundo vai medir: se o país que abriga a COP da Amazônia está realmente disposto a ser o guardião da floresta — ou se continuará conciliando destruição e progresso, como se fossem lados compatíveis da mesma moeda.
As empresas esperam previsibilidade. Os governos, prestígio. Os ativistas, justiça. As comunidades locais, da dignidade e investimento. É justo esperar tudo isso. Mas é ilusório achar que a COP, por si só, resolverá o que não resolvemos em décadas. O que ela pode — e deve — fazer é destravar o que está travado: o financiamento climático que nunca chega, os mecanismos de crédito de carbono que ainda não funcionam, a inclusão real dos povos indígenas e tradicionais na tomada de decisão. Sem isso, o evento corre o risco de se tornar mais um rito de passagem diplomático, com belas palavras e pouco legado.
Há também a questão da coerência interna. Como conciliar uma conferência sobre o futuro do clima enquanto ainda se discute a exploração de petróleo na margem equatorial? Como pedir ao mundo que confie na liderança brasileira se nossas próprias políticas ambientais ainda enfrentam retrocessos, cortes e disputas? A COP30 é, mais do que tudo, um espelho — e o reflexo pode ser desconfortável.
Acredito que Belém pode ser um ponto de virada. Não pela grandiosidade do evento, mas pela chance de reposicionar o debate climático onde ele precisa estar: no território, nas comunidades, nas decisões do cotidiano. É possível que essa COP seja a primeira em que o mundo escute, de fato, quem vive o impacto da mudança climática na pele — os povos ribeirinhos, as mulheres que carregam baldes de água, os agricultores que sentem o solo mudar. Se isso acontecer, já será um avanço civilizatório.
Ainda assim, é preciso vigilância. Grandes conferências têm o dom de transformar causas em slogans. E o desafio da COP30 é justamente o oposto: transformar slogans em causas reais. O legado não virá das falas de chefes de Estado, mas do que for capaz de se enraizar na vida das pessoas depois que as câmeras forem desligadas.
O mundo não precisa de mais uma COP inspiradora. Precisa de uma que seja consequente. E o Brasil, escolhido como anfitrião, precisa decidir se quer ser palco ou protagonista.
A COP30 pode ser o começo de uma nova era ou apenas o fim de mais uma promessa. E talvez a pergunta mais honesta que devamos fazer seja esta: quando todos forem embora de Belém, o que — ou quem — vai continuar de pé?
#ODSs: 13, 15, 06, 09 11, 10 e 17
@cauvic2





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