O retorno de lontras marinhas famintas protege o principal ecossistema costeiro: estudo 31/01/2024

Antes caçadas por causa de sua pele e à beira da extinção local, as lontras marinhas tiveram uma recuperação dramática na região central da Califórnia (Lilian Carswell)

By AFP - Agence France Presse

De volta da beira da extinção, as lontras marinhas da região central da Califórnia começaram a restaurar a paisagem degradada de um estuário importante - graças ao seu apetite insaciável por caranguejos, de acordo com um estudo publicado na quarta-feira.

A pesquisa descreve os efeitos em cascata do retorno das lontras marinhas à Baía de Monterey, na Califórnia, destacando como os esforços de conservação bem-sucedidos podem melhorar a saúde e a resiliência de ecossistemas inteiros.

Antes caçadas por causa de suas peles e à beira da extinção local, as lontras marinhas tiveram uma recuperação dramática na região central da Califórnia após mais de quatro décadas de amplos esforços de conservação na região.

As lontras retornaram às florestas de algas costeiras e ao estuário costeiro dominado por pântanos salgados, Elkhorn Slough.

E seu retorno foi o prenúncio de melhorias abrangentes em torno do estuário, um habitat essencial que protege a linha costeira.

Em um novo artigo publicado na Nature, cientistas dos Estados Unidos e do Canadá descobriram que o mamífero marinho reduziu a erosão de partes do estuário em até 90% entre a época em que recolonizaram a área em meados da década de 1980 e 2018.

"Uma das coisas mais notáveis sobre isso é que se trata realmente de uma história de sucesso de conservação", disse à AFP a autora do estudo, Christine Angelini, diretora do Centro de Soluções Costeiras da Universidade da Flórida.

Estudos anteriores sobre pântanos salgados mostraram as explicações físicas e químicas para a erosão.

Mas esse estudo aponta para outro culpado: o caranguejo da costa.

Esses caranguejos abundantes comem as raízes das plantas, se enterram nos solos dos pântanos salgados e, por fim, podem causar erosão e até mesmo colapso.

As lontras marinhas comem cerca de 25% do seu peso corporal todos os dias e os pesquisadores disseram que elas têm um apetite especialmente grande por esses caranguejos.

"Depois de algumas décadas, nas áreas recolonizadas pelas lontras marinhas, os pântanos salgados e os bancos de riachos estavam se tornando mais estáveis novamente, disse o autor principal Brent Hughes, professor associado de biologia da Sonoma State University, em um comunicado.

Isso ocorreu "apesar da elevação do nível do mar, do aumento do fluxo de água de fontes do interior e da maior poluição".

- 'Festa do caranguejo' -

Os pesquisadores combinaram décadas de dados, mais de 35.000 observações de lontras marinhas e três anos de experimentos que manipularam a presença de predadores de topo em um ecossistema de pântano salgado.

Os predadores de topo de cadeia diminuíram em quase todos os ecossistemas da Terra, mas os esforços de conservação nas últimas décadas ajudaram a recuperar espécies como lobos, ursos marrons e águias.

E pesquisas crescentes mostram que a reintrodução pode ter um impacto abrangente na restauração dos ecossistemas.

Nesse caso, os pesquisadores afirmaram que a conservação da lontra marinha proporcionou benefícios que duraram várias décadas.

"Os seres humanos custariam dezenas de milhões de dólares para reconstruir as margens desses riachos e restaurar esses pântanos", disse o autor do estudo Brian Silliman, professor de Biologia da Conservação Marinha na Duke University.

"As lontras marinhas estão estabilizando-os de graça em troca de um banquete de caranguejos à vontade."

Rochelle GLUZMAN

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