Quando o comércio vira guerra, quem perde é o planeta - OPINIÃO 15/04/2025
- Ana Cunha-Busch
- 14 de abr.
- 2 min de leitura

Quando o comércio vira guerra, quem perde é o planeta
Como salvar o planeta se os países que mais poluem estão em guerra comercial pelas soluções que poderiam frear a crise climática?
Nos últimos dias, os Estados Unidos reacenderam a disputa com a China ao aumentar tarifas sobre produtos estratégicos como veículos elétricos, semicondutores, baterias e aço. Em um planeta que precisa desesperadamente acelerar sua transição energética, essa decisão é mais do que uma guerra comercial: é um retrocesso climático.
No lugar de acordos que facilitem o acesso a tecnologias sustentáveis, vemos barreiras, taxações e disputas políticas sufocando a inovação verde. E o impacto vai muito além de Washington e Pequim.
Quando o mundo precisa acelerar sua transição para uma economia de baixo carbono, estamos assistindo a uma inversão de prioridades. Em vez de cooperação internacional para ampliar o acesso a tecnologias limpas, o que vemos é um cenário de disputa, tarifas punitivas e nacionalismos econômicos travando o avanço da sustentabilidade global.
O preço invisível: quem realmente perde?
Pode não parecer, mas decisões como essa afetam diretamente comunidades do Sul Global. Países como o Brasil – com enorme potencial em energia limpa e bioeconomia – ainda enfrentam dificuldade de acesso a tecnologias e investimentos justamente por conta dessa instabilidade global.
Se de um lado o mundo precisa de mais baterias, painéis solares e carros elétricos, do outro, vemos tarifas punitivas contra quem está tentando liderar essa mudança.
E o paradoxo só aumenta: em 2023, o mundo destinou mais de US$ 7 trilhões em subsídios a combustíveis fósseis, segundo o FMI. Enquanto isso, produtos que descarbonizam o planeta estão sendo taxados e travados.
ESG pra inglês ver?
Esse cenário expõe uma contradição incômoda: empresas e governos dizem se comprometer com ESG, mas na prática barram a entrada de soluções sustentáveis. Como confiar em relatórios que falam em governança, se decisões geopolíticas colocam a transição energética em risco?
A instabilidade econômica criada por essas disputas freia investimentos, paralisa projetos, atrasa legislações e, principalmente, afasta soluções de quem mais precisa. A exclusão energética, a poluição e a insegurança alimentar continuam impactando milhões – e poderiam ser mitigadas com cooperação internacional.
O mundo precisa alinhar acordos climáticos e comerciais, penalizando produtos poluentes e facilitando o acesso a tecnologias limpas, especialmente nos países em desenvolvimento. No entanto, vemos o contrário: barreiras sobre soluções sustentáveis, enquanto combustíveis fósseis ainda recebem bilhões em subsídios. A crise climática avança sem esperar, e cada atraso custa caro – em emissões, eventos extremos e vidas.
Se quisermos realmente construir um futuro sustentável, precisamos parar de tratar a sustentabilidade como um detalhe e colocá-la no centro das decisões econômicas e diplomáticas. Ou aprendemos a cooperar, ou vamos (continuar a) aquecer juntos. E rápido.
Com gratidão, 🌿🌍
Anna Luisa Beserra
Fundadora, Desenvolvimento Sustentável e Água para Todos
LinkedIn: Anna Luisa Beserra





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