Acordo climático na Amazônia é uma 'vitória' para a unidade global, mas combustíveis fósseis permanecem intocados. Nov 23, 2025
- Ana Cunha-Busch
- 22 de nov.
- 4 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
Acordo climático na Amazônia é uma 'vitória' para a unidade global, mas combustíveis fósseis permanecem intocados
Por Nick Perry e Issam Ahmed com Laurent Thomet em Paris
Nações selaram um acordo modesto na cúpula climática da ONU na Amazônia brasileira no sábado, enquanto muitos países aceitaram termos mais fracos sobre a eliminação gradual dos combustíveis fósseis para preservar a unidade.
Quase 200 países aprovaram o acordo por consenso após duas semanas de negociações exaustivas nos arredores da floresta tropical, com a notável ausência dos Estados Unidos, já que o presidente Donald Trump ignorou as negociações.
Aplausos ecoaram quando o martelo foi batido na quente Belém, encerrando uma cúpula dramática que testemunhou protestos ruidosos, um incêndio devastador e marchas de rua massivas.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que apostou capital político no sucesso da COP30, afirmou que o pacto era a prova de que um mundo fragmentado ainda pode se unir em tempos de crise.
"A comunidade internacional se viu diante de uma escolha: continuar ou desistir. Escolhemos a primeira opção", disse Lula na África do Sul, onde participava da cúpula do G20. "O multilateralismo venceu."
Havia menos euforia em Belém, onde ministros europeus derrotados admitiram que só aceitaram o acordo diluído para evitar o colapso de todo o processo.
"Não vamos esconder que preferíamos ter um acordo mais abrangente", disse o chefe do clima da UE, Wopke Hoekstra.
Mais tarde, ele acrescentou: "Sei que é algo um tanto intangível, mas há um enorme valor em fazer as coisas juntos."
O chefe da delegação chinesa na COP30, Li Gao, disse à AFP que a cúpula será lembrada como um sucesso.
"Alcançamos esse sucesso em uma situação muito difícil, o que demonstra que a comunidade internacional deseja mostrar solidariedade e unir esforços para enfrentar as mudanças climáticas", disse Li.
A Índia elogiou o acordo como "significativo" em uma declaração lida em nome dos principais mercados emergentes: Brasil, África do Sul, Índia e China.
A Aliança dos Pequenos Estados Insulares (APEIS) — um bloco de 39 das nações mais ameaçadas pelas mudanças climáticas — afirmou que o acordo era "imperfeito, mas um progresso necessário" para um organismo global que opera por consenso.
Dezenas de países ameaçaram abandonar as negociações caso não houvesse uma estratégia de saída para o petróleo, gás e carvão. Em vez disso, o acordo remete a um pacto anterior sobre combustíveis fósseis, sem usar explicitamente esses termos.
"Sabemos que alguns de vocês tinham ambições maiores para algumas das questões em pauta", disse o presidente da COP30, André Correa do Lago, que se ofereceu para criar um "roteiro" voluntário para a transição para longe dos combustíveis fósseis como forma de compensação.
A Colômbia "não aceita" o acordo, afirmou o presidente Gustavo Petro, cujo país sediará a primeira cúpula mundial sobre a eliminação gradual dos combustíveis fósseis em abril do próximo ano.
A ideia do roteiro ganhou força após o apoio inicial de Lula, mas encontrou a previsível oposição de gigantes do petróleo como a Arábia Saudita, da Índia, produtora de carvão, e outros.
"O presidente Lula estabeleceu metas ambiciosas ao defender roteiros para acabar com os combustíveis fósseis e o desmatamento, mas um cenário multilateral dividido não conseguiu superá-las", disse Carolina Pasquali, do Greenpeace Brasil.
O Brasil buscou controlar as expectativas de um grande acordo, dada a conjuntura geopolítica e a hostilidade dos Estados Unidos.
Mesmo assim, surgiu o otimismo de que o Brasil — defensor dos países em desenvolvimento e lar da maior floresta tropical do mundo — poderia conseguir algo.
Em uma vitória para os países em desenvolvimento, o mundo concordou em "pelo menos triplicar" até 2035 o financiamento para que as nações mais pobres se adaptem às mudanças climáticas.
Mas isso foi o mínimo, disse um negociador de Bangladesh à AFP, prometendo que a "luta continuará".
Raju Pandit, negociador do Nepal, afirmou que a cúpula "não atendeu às expectativas dos países vulneráveis às mudanças climáticas".
Em um desfecho visto como uma vitória para a China, uma linguagem firme em relação às medidas comerciais também foi incluída, pela primeira vez, em um acordo da COP.
Deixando a política de lado, a cúpula teve um tom bem diferente das COPs dos últimos anos, realizadas em petroestados autoritários e rigidamente controlados.
Dezenas de milhares de pessoas marcharam em uma atmosfera carnavalesca pelas ruas, enquanto, dentro do local, manifestantes protestavam nos corredores.
Mas também houve momentos inesperados — e menos bem-vindos — de drama.
Um grande incêndio irrompeu dentro do local no penúltimo dia, queimando o teto de tecido e causando uma corrida desesperada para as saídas, enquanto a fumaça tomava conta dos corredores.
Logo no início da primeira semana, manifestantes indígenas invadiram o local e entraram em confronto com a segurança, em cenas que atraíram a atenção global para sua situação.
A Amazônia fez-se sentir — e ser ouvida.
A umidade podia ser sufocante e, na maioria das tardes, o céu desabava em chuvas torrenciais.
Mesmo na plenária final, um exausto Correa do Lago falou sobre "o maravilhoso barulho de uma chuva amazônica", enquanto lutava para ser ouvido em meio ao clamor.
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