Apesar dos riscos, moradores lutam para proteger o parque nacional russo. 14/08/2025
- Ana Cunha-Busch
- 13 de ago.
- 3 min de leitura
Por AFP - Agence France Presse
Apesar dos riscos, moradores lutam para proteger o parque nacional russo.
Após ser multada por seu protesto ambiental contra a construção de uma estrada em um parque nacional perto de Moscou, Irina Kuriseva está de volta para verificar a construção.
"Só queremos defender a natureza", disse a mulher de 62 anos à AFP no parque Losiny Ostrov (Ilha dos Alces), uma reserva natural de 129 quilômetros quadrados com centenas de espécies de animais selvagens, incluindo aves ameaçadas de extinção.
Com as vozes dissidentes na Rússia quase totalmente silenciadas e o país avançando com sua ofensiva militar massiva na Ucrânia, o ativismo ambiental tornou-se altamente arriscado.
"As autoridades tornaram-se completamente indiferentes" e as leis foram "suavizadas" em favor de poluidores e incorporadoras, disse um ativista, falando sob condição de anonimato.
Na periferia de Moscou, a questão se tornou particularmente grave, à medida que as incorporadoras continuam construindo novas casas e os moradores que se deslocam para a capital ficam presos em engarrafamentos por horas.
Em Korolyov, uma cidade de 200.000 habitantes, as autoridades decidiram construir uma rodovia que atravessa o parque nacional para aliviar o congestionamento e dar acesso a um novo empreendimento habitacional.
Em julho, Kuriseva e outros cinco ativistas bloquearam máquinas que espalhavam asfalto na floresta.
Eles foram presos pela polícia e multados, após passarem uma noite na delegacia.
"Fomos interrogados como criminosos que mataram alguém", disse Kuriseva, uma moradora local.
A lei russa proíbe construções em parques nacionais, mas as autoridades locais contornaram a situação argumentando que o projeto consistia em "reparos" em uma estrada existente.
Dmitry Trunin, advogado de defesa ambiental com mais de 25 anos de experiência, afirmou que esse argumento equivale a "falsificação e fraude".
"Nunca houve uma estrada ali", disse ele, explicando que havia apenas uma trilha não pavimentada usada por guardas florestais, que depois se tornou apenas um caminho através da floresta.
Kuriseva disse que "pó de asfalto" foi colocado na trilha na tentativa de classificá-la como estrada.
A rodovia deve ser concluída até março de 2026, a um custo de 5,4 milhões de euros (US$ 6,3 milhões), de acordo com o Ministério dos Transportes regional.
- "Não envolvam o presidente" -
Mikhail Rogov, engenheiro de 36 anos que também participou do protesto com Kuriseva, disse que a juíza estava "sorrindo" para os réus no tribunal.
"Ela nos disse: 'Se vocês não querem problemas, assinem estes papéis, paguem suas multas e estarão livres'", disse ele.
Em 2023, a juíza Maria Loktionova condenou outro ativista ambiental, Alexander Bakhtin, a seis anos de prisão por três postagens em redes sociais criticando a ofensiva russa na Ucrânia.
Apesar da repressão à dissidência, ativistas contrários à rodovia têm apelado ao presidente Vladimir Putin para que ajude sua causa.
Em junho, cerca de mil pessoas formaram uma fila em frente ao prédio da administração presidencial em Moscou para apresentar suas queixas.
Putin visitou o parque nacional em 2010 e alimentou um filhote de alce com mamadeira, dizendo a repórteres que a natureza era "um presente de Deus" que deveria ser "protegido".
O tom do Kremlin é muito diferente em 2025.
"Esta é uma questão para as autoridades regionais. Não envolvam o presidente", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em julho, quando questionado sobre o projeto pela AFP.
A proteção ambiental "não deve ser uma barreira ao desenvolvimento e ao conforto da vida dos cidadãos", disse ele.
Trunin disse que está "cada vez mais difícil defender a verdade no tribunal".
"A vertical do poder toma decisões e os órgãos de fiscalização e fiscalização obedecem", disse ele.
bur/giv
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