Austrália cede à Turquia em impasse sobre a próxima cúpula do clima. 20/11/2025
- Ana Cunha-Busch
- há 1 dia
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Por AFP - Agence France Presse
Austrália cede à Turquia em impasse sobre a próxima cúpula do clima
Por Nick Perry
A Austrália admitiu a derrota em uma árdua disputa diplomática sobre o direito de sediar a cúpula do clima da ONU do ano que vem, com a Turquia prevalecendo apesar de estar em uma posição muito mais frágil.
Ainda não se sabe exatamente quem presidirá o evento global de grande repercussão, mas a longa campanha da Austrália para trazer a COP31 para Adelaide chegou ao fim.
"Obviamente, seria ótimo se a Austrália pudesse ter tudo. Mas não podemos ter tudo", disse um abatido Chris Bowen, ministro do Clima da Austrália, na quarta-feira, no Brasil, onde as negociações climáticas deste ano continuam.
Apenas dois dias antes, na cidade de Belém, na floresta tropical, onde o impasse não resolvido com a Turquia ameaçava gerar uma disputa no cenário mundial, Bowen declarou com confiança: "Estamos aqui para vencer".
Mas, apesar de sua candidatura contar com apoio esmagador, a Austrália não conseguiu contornar uma peculiaridade do sistema da ONU: o consenso é necessário para obter o direito de sediar o evento.
A Turquia se recusou a desistir, o que levou a um cabo de guerra em Belém que testou a insistência do Brasil de que a solidariedade climática global estava viva e forte.
Sem que um dos lados cedesse ou que outro acordo fosse firmado, a COP31 seria realizada na Alemanha, país que abriga os escritórios da agência climática da ONU — algo que muitos queriam evitar, principalmente os próprios alemães.
Uma alternativa bastante incomum foi negociada: a Turquia sediaria a cúpula com 200 nações, mas a Austrália conduziria as negociações maratonas.
"Sei que algumas pessoas ficarão desapontadas com esse resultado", disse Bowen, "mas concessões significativas são necessárias quando se busca consenso".
Trata-se de uma grande vitória para o presidente Recep Tayyip Erdogan, que tem adotado uma diplomacia assertiva e de mediação, posicionando a Turquia como intermediária em conflitos que vão da Ucrânia à Faixa de Gaza e ao Chifre da África.
A cúpula será realizada na cidade turística mediterrânea de Antalya, onde a Turquia já sedia um importante fórum diplomático todos os anos em janeiro, que serve para projetar a imagem de soft power que Ancara deseja construir.
As cúpulas da COP atraem líderes mundiais, executivos de empresas e dezenas de milhares de visitantes, e sediar esses eventos de gala tornou-se um ponto de prestígio.
Disputas rivais para sediar a COP não são inéditas, mas nenhuma jamais havia chegado a um ponto tão crítico como este.
A Turquia insistiu que sua candidatura era competitiva, apesar de não ter alcançado o mesmo número de votos que a Austrália, que se comprometeu a co-organizar o evento com nações insulares do Pacífico vulneráveis às mudanças climáticas.
De acordo com as regras da COP, a função de anfitrião é rotativa entre cinco blocos, e em 2026 coube ao bloco dos Estados da Europa Ocidental e Outros Estados — cerca de duas dezenas de países, em sua maioria europeus, mas também Turquia, Austrália e Canadá, entre outros.
Na quarta-feira, em uma reunião para tentar superar o impasse, diplomatas turcos permaneceram juntos, separados dos demais representantes, com ambos os grupos entrando na sala por portas diferentes.
A reunião foi presidida pelo secretário de Estado alemão para o Meio Ambiente, Jochen Flasbarth, que disse à AFP que a proposta de co-organização era "inovadora" e que não havia ouvido nenhuma oposição a ela.
Mas a proposta ainda precisava ser formalizada por escrito — e somente então ele convocaria o grupo novamente para tomar uma decisão.
Observadores atentos, porém, afirmaram ser improvável que a Austrália aceitasse qualquer coisa que não fosse a presidência da COP31 — e difícil imaginar que a Turquia não concordasse com os termos.
"Pareceria notável que um país que não tinha nenhum outro apoiador além de si mesmo no grupo regional que decide conseguisse sediar a COP e, ao mesmo tempo, obter a importantíssima presidência", disse uma fonte diplomática próxima às discussões.
Simon Bradshaw, do Greenpeace Austrália Pacífico, disse à AFP que "seja qual for o local, seja qual for o acordo, a tarefa permanece a mesma: eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento".
Mas o clima era menos otimista na região das Ilhas do Pacífico, onde a elevação do nível do mar e os eventos climáticos extremos ameaçam a própria sobrevivência de muitos pequenos estados insulares.
"Nem todos estamos felizes. E estamos decepcionados com o resultado", disse o Ministro das Relações Exteriores de Papua Nova Guiné, Justin Tkatchenko, à AFP, assim que a notícia foi divulgada.
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