Baleias em cativeiro no Canadá enfrentam ameaça de eutanásia e futuro incerto. 26/11/2025
- Ana Cunha-Busch
- 25 de nov.
- 4 min de leitura
Por AFP - Agence France Presse
Baleias em cativeiro no Canadá enfrentam ameaça de eutanásia e futuro incerto
Daphne LEMELIN e Marion THIBAUT
As 30 belugas restantes em cativeiro no Marineland, no Canadá, não têm nada a fazer a não ser esperar.
A antiga atração turística, que teria falido, está fechada para visitantes, então as baleias circulam em seus tanques em decomposição, enquanto os proprietários do parque — que fizeram uma ameaça chocante de eutanasiar as belugas — discutem com o governo sobre o que acontecerá a seguir.
O Marineland, perto das famosas Cataratas do Niágara, já foi um parque temático lucrativo. Seu jingle cativante, que culmina no slogan "Todo mundo ama o Marineland", era presença constante na televisão canadense.
Mas o parque está envolto em controvérsia há anos, e seus corredores estranhamente vazios eram visíveis do lado de fora durante uma visita no início deste mês.
Desde 2019, 20 animais, incluindo 19 belugas, morreram no Marineland, de acordo com uma contagem da Canadian Press.
O parque afirmou que todas as mortes foram por causas naturais, mas autoridades de bem-estar animal da província de Ontário investigam o Marineland há cinco anos e as preocupações com o sistema de água do parque persistem.
Criadas em cativeiro, as baleias provavelmente não sobreviveriam na natureza.
O Marineland achou que tinha uma solução no mês passado, quando anunciou planos para exportar as belugas para o parque temático Chimelong Ocean Kingdom, na China.
O governo federal do Canadá bloqueou a ideia, rejeitando uma solução que, segundo ele, perpetuava a exploração das baleias.
Agravando a situação, o Marineland anunciou que estava "totalmente endividado e rapidamente ficando sem recursos para fornecer cuidados adequados às baleias".
"Nossas únicas opções neste momento são realocar as baleias ou enfrentar a decisão devastadora da eutanásia", dizia um comunicado.
O Marineland recusou os repetidos pedidos de comentários da AFP sobre os possíveis próximos passos.
- 'Hediondo' -
Phil Demers, um ex-treinador do Marineland que se tornou denunciante, trabalhou para documentar os supostos abusos no parque.
A ameaça de eutanásia "não é real", disse ele à AFP.
"É ilegal. Ninguém jamais participaria de uma coisa tão hedionda", afirmou.
Demers insistiu que o parque é motivado unicamente pelo lucro e quer vender as baleias.
Ainda assim, disse ele, o plano do Marineland de transferir as belugas para outro parque, possivelmente o da China, era a única opção viável.
"É uma questão de onde e quando, não de se", concluiu.
Um dos principais obstáculos é a Lei Canadense de 2019 para o Fim do Cativeiro de Baleias e Golfinhos.
A legislação, que tornou ilegal manter certos mamíferos marinhos em cativeiro, impediu o governo de aprovar o plano de exportação do Marineland para a China.
O Marineland, assim como outros parques semelhantes, sofreu com a queda na receita devido à crescente resistência global a atrações onde mamíferos em cativeiro são treinados para se apresentar.
Demers enfatizou que não existem muitas instalações no mundo que possam acomodar várias belugas, e que a instalação chinesa, que investiu muito em tanques enormes, poderia funcionar.
"Acho que o ministro cometeu um erro ao rejeitar as licenças de exportação, mas só o tempo dirá", disse ele.
Uma porta-voz da ministra das Pescas do Canadá, Joanne Thompson, disse à AFP: "O Canadá está aberto a considerar outras transferências ou licenças de exportação" e novas propostas "serão analisadas rapidamente".
— "Sinto muita falta delas" —
O primeiro emprego de Kristy Burgess no Marineland foi como garçonete. Depois de presenciar o nascimento de uma beluga, ela estudou e acabou se tornando treinadora no parque.
"Esses animais não sofrem maus-tratos de forma alguma, mas o ambiente em que vivem, eu diria que é 'abusivo', porque é muito pequeno. Está caindo aos pedaços. Não é limpo. Elas merecem isso. Isso deveria ser o mínimo", disse Burgess à AFP.
Ela enfatizou que as belugas são amadas pela equipe responsável por seus cuidados.
"Há algumas baleias, três em particular, em que penso constantemente e me pergunto como estão", disse ela.
"Duas das outras fêmeas que eu amava eram muito teimosas, mas foram ótimas para mim", acrescentou.
"Sinto muita falta delas."
Burgess ressaltou que as belugas precisam de um lar decente e que o Marineland claramente não é a solução.
Uma das opções que surgiu é a proposta de um santuário de baleias na costa atlântica do Canadá, na província de Nova Escócia.
O projeto está em discussão e nenhuma construção foi iniciada, o que leva alguns a descartá-lo como uma opção para as belugas do Marineland.
O diretor executivo do projeto, Charles Vinick, afirmou que é necessário um debate mais amplo sobre como gerenciar baleias em cativeiro.
"Os parques enfrentam uma situação difícil, sua receita está diminuindo porque o público está mudando... e, no entanto, eles são os donos dos animais", disse ele.
Os mamíferos marinhos precisam de opções que "lhes permitam uma aposentadoria digna, com dignidade e em um ambiente onde possam prosperar", concluiu.
daf-tib/bs/aha
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