Busca europeia por lítio prejudicada pela China e pela falta de dinheiro 22/06/2025
- Ana Cunha-Busch
- 21 de jun.
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Por AFP - Agence France Presse
Busca europeia por lítio prejudicada pela China e pela falta de dinheiro
Por Alvaro VILLALOBOS
A ambição da Europa de se tornar um player mundial em transporte descarbonizado depende, sem dúvida, da obtenção de lítio no exterior, especialmente na América do Sul.
Mesmo as metas mais amplas de segurança energética e clima do bloco podem depender da garantia de um fornecimento constante do mineral essencial, usado em baterias e outras cadeias de fornecimento de energia limpa.
Mas a Europa se deparou com três obstáculos: falta de dinheiro, regulamentações ambíguas e concorrência da China, disseram analistas à AFP.
A China tem uma grande vantagem.
Atualmente, a Europa produz mais de três quartos das baterias vendidas no mundo, refina 70% do lítio bruto e é a terceira maior extrativista do mundo, atrás da Austrália e do Chile, segundo dados de 2024 do Serviço Geológico dos Estados Unidos.
Para se consolidar, a Europa desenvolveu um marco regulatório que enfatiza a preservação ambiental, a criação de empregos de qualidade e a cooperação com as comunidades locais.
Também assinou acordos bilaterais com cerca de 15 países, incluindo Chile e Argentina, o quinto maior produtor mundial de lítio.
Mas, com muita frequência, falha em cumprir os compromissos quando se trata de investimento, afirmam especialistas.
"Vejo muitos memorandos de entendimento, mas falta ação", disse à AFP Julia Poliscanova, diretora de veículos elétricos do think tank Transporte e Meio Ambiente (T&E).
"Mais de uma vez, no dia em que assinamos outro memorando de entendimento, os chineses estavam comprando uma mina inteira no mesmo país."
A lacuna de investimento é enorme: a China gastou US$ 6 bilhões em projetos de lítio no exterior entre 2020 e 2023, enquanto a Europa mal desembolsou US$ 1 bilhão no mesmo período, segundo dados compilados pela T&E.
Ao mesmo tempo, o gargalo na oferta se intensificou: no ano passado, houve um aumento de 30% na demanda global por lítio, de acordo com um relatório recente da Agência Internacional de Energia (AIE).
"Para garantir o fornecimento de matérias-primas, a China está investindo ativamente em minas no exterior por meio de empresas estatais com apoio político do governo", observou a AIE.
A Iniciativa Cinturão e Rota da China canalizou US$ 21,4 bilhões para mineração além de suas fronteiras em 2024, de acordo com o relatório.
A Europa, por sua vez, está "atrasada em níveis de investimento nessas áreas", disse Sebastian Galarza, fundador do Centro para a Mobilidade Sustentável em Santiago, Chile.
"A falta de um caminho claro para o desenvolvimento das indústrias de baterias e mineração da Europa significa que essa lacuna será preenchida por outros atores."
Na África, por exemplo, a demanda chinesa impulsionou o Zimbábue a se tornar o quarto maior produtor de lítio do mundo.
"Os chineses deixam o dinheiro falar por si", disse Theo Acheampong, analista do Conselho Europeu de Relações Exteriores.
Até 2035, todos os carros e vans novos vendidos na União Europeia devem produzir zero emissões de carbono, e os líderes e a indústria da UE gostariam que a maior parte dessa fatia de mercado fosse adquirida localmente.
No ano passado, pouco mais de 20% dos veículos novos vendidos no bloco eram elétricos.
"Atualmente, apenas 4% do lítio do Chile vai para a Europa", observou Stefan Debruyne, diretor de relações externas da mineradora privada chilena SQM.
"A UE tem todas as oportunidades para aumentar sua participação na indústria de baterias."
Mas os planos da Europa de construir dezenas de fábricas de baterias têm sido prejudicados pela demanda flutuante do consumidor e pela concorrência do Japão (Panasonic), Coreia do Sul (LG Energy Solution, Samsung) e, acima de tudo, da China (CATL, BYD).
A chave para garantir o fornecimento de lítio a longo prazo é estreitar os laços no chamado "triângulo do lítio", formado por Chile, Argentina e Bolívia, que respondem por quase metade das reservas mundiais, afirmam analistas.
Para incentivar a cooperação com esses países, atores europeus propuseram caminhos de desenvolvimento que ajudariam a estabelecer a produção de baterias elétricas na América Latina.
O projeto de regulamentação da UE permitiria que a América Latina "conciliasse o desenvolvimento local com a exportação dessas matérias-primas, sem cair em um ciclo puramente extrativista", disse Juan Vazquez, vice-diretor para América Latina e Caribe no Centro de Desenvolvimento da OCDE.
Mas ainda não está claro se ajudar os países exportadores a desenvolver cadeias de suprimentos completas faz sentido econômico ou se, em última análise, penderá a favor da Europa.
"Qual o interesse da sua empresa em se estabelecer no Chile para produzir cátodos, baterias ou materiais mais sofisticados se não tiver um mercado local ou regional para abastecer?", perguntou Galarza.
"Por que não simplesmente pegar o lítio, refiná-lo, fazer tudo na China e enviar a bateria de volta para nós?"
Apontando para a tradição automotiva no México, Brasil e Argentina, Galarza sugeriu uma resposta.
"Devemos avançar rapidamente em direção à eletrificação do transporte na região para que possamos
"Precisamos avançar rapidamente para a eletrificação do transporte na região para que possamos compartilhar os benefícios da transição energética", argumentou.
Mas o caminho à frente parece longo.
Veículos elétricos representaram apenas 2% das vendas de carros novos no México e no Chile no ano passado, 6% no Brasil e 7% na Colômbia, segundo a AIE.
A pequena Costa Rica se destacou como a única nação da região onde os veículos elétricos atingiram a marca dos dois dígitos, representando 15% das vendas de carros novos.
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