Exame de saúde planetária alerta para risco de "desestabilização" dos sistemas terrestres. 26/09/2025
- Ana Cunha-Busch
- 25 de set.
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Por AFP - Agence France Presse
Exame de saúde planetária alerta para risco de "desestabilização" dos sistemas terrestres
Kelly MACNAMARA
Os humanos estão colocando em risco a própria estabilidade dos sistemas de suporte à vida na Terra, disseram cientistas na quarta-feira, alertando que a acidez dos oceanos é mais um limite planetário fundamental a ser ultrapassado.
Uma equipe de cientistas globais avaliou que sete dos nove chamados "limites planetários" — processos que regulam a estabilidade, a resiliência e a capacidade da Terra de sustentar a vida — já foram ultrapassados.
Mudanças climáticas, perda de biodiversidade, desmatamento, esgotamento de água doce, uso excessivo de fertilizantes agrícolas e a liberação de produtos químicos e plásticos artificiais no meio ambiente já estavam no vermelho.
Em seu novo relatório, os cientistas afirmaram que todos os sete "apresentavam tendências de aumento de pressão — sugerindo maior deterioração e desestabilização da saúde planetária em um futuro próximo".
Atividades destrutivas e poluentes, particularmente a queima de combustíveis fósseis, estão levando-as a territórios ainda mais arriscados e interagindo cada vez mais entre si.
"Estamos colocando em risco a estabilidade de todo o sistema de suporte à vida na Terra", disse Johan Rockstrom, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK), em uma coletiva de imprensa para lançar a pesquisa.
O conceito de limites planetários foi cunhado pela primeira vez em 2009, quando apenas o aquecimento global, as taxas de extinção e os níveis de nitrogênio haviam ultrapassado seus limites.
"Estamos nos afastando ainda mais do espaço operacional seguro, correndo o risco de desestabilizar nossa Terra e com um risco crescente a cada ano", disse Levke Caesar, colíder de Ciência de Limites Planetários no PIK.
Muitas das causas da deterioração estão interligadas, demonstrando tanto o amplo impacto das atividades humanas quanto as possibilidades de ação.
O uso de combustíveis fósseis é um exemplo fundamental, impulsionando as mudanças climáticas, além de alimentar a poluição por plásticos e o aumento da acidificação dos oceanos.
Estima-se que os mares do mundo tenham absorvido cerca de 30% do excesso de dióxido de carbono liberado na atmosfera pela queima de petróleo, gás e carvão.
Isso altera o pH do oceano, afetando a capacidade de organismos como corais, moluscos e algumas formas de plâncton de formar conchas e esqueletos.
O aumento da acidificação dos oceanos desde o relatório do ano passado deveu-se, em parte, a dados mais precisos e cálculos revisados.
Cientistas disseram que já havia evidências de danos às conchas, especialmente em animais marinhos em regiões polares e costeiras.
"O que vemos nos dados não é mais abstrato. Está se manifestando no mundo ao nosso redor agora mesmo", disse Caesar.
Um ponto positivo no relatório deste ano é a melhoria na qualidade do ar global, com a queda das emissões de aerossóis em todo o mundo, apesar do flagelo contínuo da poluição particulada grave em algumas regiões.
O limite final — a destruição da camada de ozônio — permanece confortavelmente dentro dos limites seguros, o que, segundo cientistas, demonstra o sucesso da cooperação global para restringir os poluentes que destroem a camada de ozônio.
Pesquisadores quantificaram limites seguros para essas facetas interligadas do sistema terrestre, que se alimentam e amplificam mutuamente.
Para as mudanças climáticas, por exemplo, o limite está ligado à concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, que retém o calor.
Este limite ficou próximo de 280 partes por milhão (ppm) por pelo menos 10.000 anos antes da revolução industrial, e pesquisadores sugerem que o limite seja de 350 ppm. As concentrações em 2025 são de 423 ppm.
A avaliação da biodiversidade e dos ecossistemas mundiais é ainda mais perigosa.
"A rede de segurança da natureza está se desfazendo: as extinções e a perda de produtividade natural estão muito acima dos níveis seguros, e não há sinais de melhora", afirma o relatório.
klm/np/gv





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