Extremos de calor climático impulsionam declínio de aves tropicais: estudo. 11/08/2025
- Ana Cunha-Busch
- 10 de ago.
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Por AFP - Agence France Presse
Extremos de calor climático impulsionam declínio de aves tropicais: estudo
Por Julien MIVIELLE
As populações de aves tropicais despencaram não apenas devido ao desmatamento, mas também ao calor extremo atribuível às mudanças climáticas, de acordo com um estudo publicado na segunda-feira na revista Nature Ecology & Evolution.
O aumento das temperaturas causou uma redução de 25% a 38% nas populações de aves tropicais entre 1950 e 2020, em comparação com um cenário sem aquecimento global causado pelo homem, relataram cientistas da Europa e da Austrália.
"As descobertas são bastante drásticas", disse à AFP o autor principal, Maximilian Kotz, pesquisador do Centro Nacional de Supercomputação de Barcelona e do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam (PIK).
As populações de aves nos trópicos agora enfrentam 30 dias de extremos de calor por ano, em comparação com três por ano em meados do século XX, observou ele.
"Isso tem consequências importantes para a forma como pensamos a conservação da biodiversidade", disse Kotz por e-mail. "Proteger habitats intocados é crucial, mas sem lidar com as mudanças climáticas, não será suficiente para as aves."
Quase metade de todas as espécies de aves são encontradas em regiões tropicais ricas em biodiversidade.
Esses animais, muitas vezes coloridos, realizam serviços essenciais para os ecossistemas, como a dispersão de sementes de plantas.
Mas as aves que vivem nessas regiões podem já estar "próximas dos limites" de sua tolerância a altas temperaturas, o que pode causar insolação (hipertermia) ou desidratação.
O estudo geral não fornece números para espécies individuais, mas a literatura anterior é rica em exemplos do impacto devastador do aumento das temperaturas.
Um deles documentou o declínio de aves no Panamá relacionado ao calor, incluindo o quetzal-rei, o quetzal-de-crista-vermelha, o martim-pescador-bicolor e o surucuá-aurora.
Outro estudo publicado em 2017 mostrou como alguns beija-flores tropicais agora são forçados a buscar sombra para regular sua temperatura em calor extremo, reduzindo o tempo que podem gastar buscando o néctar essencial à sua vida.
Ondas de calor extremo, que estão se tornando mais frequentes, representam uma ameaça muito maior do que o aumento das temperaturas médias ou da precipitação, outro resultado das mudanças climáticas induzidas pelo homem.
Até agora, presumia-se que o declínio das populações de aves em todo o mundo se devia principalmente a outros fatores bem identificados, especialmente a perda de habitat, o uso de pesticidas, a caça e espécies invasoras, especialmente cobras que se alimentam de ovos de aves e mosquitos transmissores da malária aviária.
Mas as novas descobertas "desafiam a visão de que as pressões humanas diretas têm sido, até agora, o principal fator determinante dos impactos sobre as populações de aves em comparação com as mudanças climáticas em regiões tropicais", segundo os autores.
Para chegar a essa conclusão, eles analisaram dados observacionais de mais de 3.000 populações de aves em todo o mundo e usaram modelagem estatística para isolar os efeitos do clima extremo de outros fatores.
As descobertas ajudam a completar o panorama do declínio das aves tropicais, observou Aimee Van Tatenhove, pesquisadora de pós-doutorado no Centro de Estudos de Populações Aviárias da Universidade Cornell, que não participou do estudo.
"O desmatamento tem um impacto óbvio — árvores são cortadas e o habitat é destruído", disse ela à AFP. "Precisamos de conjuntos de dados de longo prazo como os usados pelos autores para entender como as temperaturas extremas impactam as populações de aves."
"Este estudo é um lembrete importante de que precisamos continuar examinando as diferentes causas do declínio populacional e aplicar essas descobertas a iniciativas de conservação", continuou ela.
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