Fundos para 'linha de vida' para adaptação climática estão longe de atingir as metas: ONU. 29/10/2025
- Ana Cunha-Busch
- 28 de out.
- 3 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
Fundos para 'linha de vida' para adaptação climática estão longe de atingir as metas: ONU
Por Kelly MACNAMARA
Países ricos não estão cumprindo as metas prometidas para fornecer uma "linha de vida" de financiamento para ajudar as nações mais pobres a se prepararem para o agravamento das calamidades climáticas, alertou a ONU nesta quarta-feira.
Os esforços para se adaptar aos impactos cada vez mais perigosos e dispendiosos das mudanças climáticas — desde a construção de diques de proteção marítima até o plantio de culturas resistentes à seca — devem ser um dos principais focos das negociações climáticas das Nações Unidas no Brasil a partir de 10 de novembro.
Tempestades intensificadas por mares mais quentes, inundações devastadoras, ondas de calor e incêndios florestais estão se intensificando em todo o planeta como resultado do aquecimento global causado pela queima de petróleo, gás e carvão pela humanidade.
Mas o financiamento internacional prometido está muito aquém do esperado, de acordo com o mais recente relatório sobre a Lacuna de Adaptação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
"Os impactos climáticos estão se acelerando. No entanto, o financiamento para adaptação não está acompanhando esse ritmo, deixando os mais vulneráveis do mundo expostos à elevação do nível do mar, tempestades mortais e calor escaldante", disse o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, em sua mensagem sobre o relatório.
"Adaptação não é um custo – é uma tábua de salvação."
Os países mais ricos prometeram, em 2021, dobrar o financiamento público anual para adaptação em países em desenvolvimento, para cerca de US$ 40 bilhões até 2025.
Em vez disso, o financiamento caiu de US$ 28 bilhões em 2022 para US$ 26 bilhões em 2023, de acordo com os dados mais recentes deste relatório. Os dados de 2024 e 2025 ainda não estão disponíveis.
Em seu prefácio ao relatório, a diretora-geral do PNUMA, Inger Andersen, afirmou que agora "parece improvável" que essa tendência se reverta, colocando em risco as metas de financiamento climático de longo prazo e significando que "muitas mais pessoas sofrerão desnecessariamente".
O relatório projetou que as necessidades financeiras de adaptação dos países em desenvolvimento ultrapassarão US$ 310 bilhões até 2035 — 12 vezes mais do que os níveis de 2023.
"Como as ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa continuam lentas, esses impactos só piorarão, prejudicando mais pessoas e causando danos econômicos significativos", disse Andersen em um comunicado.
Muitos países em desenvolvimento já estão lidando com os custos crescentes dos desastres climáticos, bem como com níveis de endividamento exorbitantes, o que torna ainda mais difícil investir em resiliência futura.
Enquanto isso, o presidente dos EUA, Donald Trump, reduziu drasticamente o orçamento da principal organização de desenvolvimento internacional do país, e outros grandes doadores também cortaram seus orçamentos de ajuda.
Andersen pediu um esforço global para aumentar os recursos disponíveis, mas alertou contra abordagens que sobrecarregam os países em desenvolvimento com dívidas.
"Mesmo com orçamentos apertados e prioridades concorrentes, a realidade é simples: se não investirmos em adaptação agora, enfrentaremos custos crescentes a cada ano", disse Andersen.
O relatório estimou o potencial de investimento do setor privado em medidas de adaptação em US$ 50 bilhões por ano, em comparação com o nível atual de cerca de US$ 5 bilhões.
Mas ressaltou que isso exigiria apoio político e financeiro dos governos, alertando que existem limites para o quanto o investimento privado é realista.
"As mudanças climáticas já estão aqui, destruindo vidas e os ecossistemas dos quais todos os seres vivos dependem tão delicadamente", disse Annamaria Lehoczky, da Fauna & Flora, à AFP.
"Os países desenvolvidos não podem continuar fazendo promessas sobre financiamento climático internacional sem cumpri-las. Não temos tempo."
O presidente da COP30, André Correa do Lago, disse na quarta-feira que a adaptação "sempre foi relegada a um segundo plano", mas que o tema ganhará destaque nas próximas negociações climáticas.
klm-dep/np/jxb





Comentários