No lago do Canadá, um robô aprende a minerar sem perturbar a vida marinha 03/06/2025
- Ana Cunha-Busch
- 2 de jun.
- 3 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
No lago do Canadá, um robô aprende a minerar sem perturbar a vida marinha
John Wong com Anne-Marie Provost em Montreal
Três braços robóticos se estenderam sob a água em um lago canadense, selecionando delicadamente seixos do leito, antes de armazená-los de volta na máquina.
O exercício fez parte de uma série de testes pelos quais o robô estava passando antes da implantação planejada no oceano, onde seus operadores esperam que a máquina possa transformar a busca pelos metais mais procurados do mundo.
O robô foi fabricado pela Impossible Metals, uma empresa fundada na Califórnia em 2020, que afirma estar tentando desenvolver uma tecnologia que permita que o leito marinho seja extraído com pouca perturbação ecológica.
A coleta subaquática convencional envolve a coleta de grandes quantidades de material em busca de objetos do tamanho de batatas chamados nódulos polimetálicos.
Esses nódulos contêm níquel, cobre, cobalto ou outros metais necessários para baterias de veículos elétricos, entre outros produtos importantes.
O cofundador da Impossible Metals, Jason Gillham, disse à AFP que o robô de sua empresa procura os nódulos “de forma seletiva”.
O protótipo, que está sendo testado na província de Ontário, permanece parado na água, pairando sobre o fundo do lago.
Em um laboratório, a equipe da empresa monitora o robô amarelo em telas, usando o que parece ser um console de videogame para direcionar seus movimentos.
Usando luzes, câmeras e inteligência artificial, o robô tenta identificar os nódulos procurados, deixando a vida aquática - como ovos de polvos, corais ou esponjas - intacta.
- ‘Um pouco como escavadeiras’
Em uma iniciativa inédita para o setor nascente, a Impossible Metals solicitou uma autorização do presidente dos EUA, Donald Trump, para usar seu robô em águas americanas ao redor de Samoa, no Pacífico.
A empresa espera que sua promessa de interrupção ecológica limitada lhe dê mais apelo.
Os concorrentes, como a The Metals Company, usam máquinas gigantes que rolam ao longo do leito marinho e sugam os nódulos, uma técnica altamente controversa.
Douglas McCauley, biólogo marinho da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, disse à AFP que esse método coleta o fundo do oceano usando coletores ou escavadeiras, “um pouco como escavadeiras”, explicou.
Tudo é então levado para navios, onde os nódulos são separados dos resíduos, que são jogados de volta no oceano.
Isso cria grandes plumas de sedimentos e toxinas com uma infinidade de impactos potenciais, disse ele.
Uma abordagem menos invasiva, como a defendida pela Impossible Metals, reduziria o risco de danos ambientais, explicou McCauley.
Mas ele observou que a colheita mais leve não é isenta de riscos.
Os próprios nódulos também abrigam organismos vivos, e removê-los, mesmo com uma técnica seletiva, envolve a destruição do habitat, disse ele.
A Impossible Metals admite que sua tecnologia não consegue detectar vida microscópica, mas a empresa afirma ter uma política de deixar 60% dos nódulos intocados.
McCauley não está convencido, explicando: “Os ecossistemas das profundezas do oceano são especialmente frágeis e sensíveis”.
“A vida lá embaixo se move muito lentamente, portanto se reproduzem muito lentamente, crescem muito lentamente.”
Duncan Currie, da Deep Sea Conservation Coalition, disse que é impossível avaliar o impacto de qualquer coleta em águas profundas.
“Também não sabemos o suficiente ainda em termos de biodiversidade e ecossistema lá embaixo”, disse ele à AFP.
De acordo com a iniciativa científica internacional Ocean Census, apenas 250.000 espécies são conhecidas, dos dois milhões que se estima que povoam os oceanos.
- Alta demanda
A mineração “sempre terá algum impacto”, disse o executivo-chefe e cofundador da Impossible Metals, Oliver Gunasekara, que passou a maior parte de sua carreira na área de semicondutores.
Mas, acrescentou, “precisamos de muito mais minerais essenciais, pois queremos eletrificar tudo”.
Ilustrando a corrida global em direção à mineração subaquática, a Impossible Metals levantou US$ 15 milhões de investidores para construir e testar uma primeira série de seu robô Eureka 3 em 2026.
A versão comercial terá o tamanho de um contêiner de transporte e aumentará de três para 16 braços, e sua bateria aumentará de 14 para quase 200 quilowatts-hora.
O robô será totalmente autônomo e autopropelido, sem cabos ou amarras na superfície, e será equipado com sensores.
Enquanto aguarda o sinal verde dos EUA, a empresa espera finalizar sua tecnologia dentro de dois a três anos, realizar testes oceânicos, construir uma frota e operar por meio de parcerias em outras partes do mundo.
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