O apagão na Espanha destaca o desafio das energias renováveis para a rede elétrica 06/05/2025
- Ana Cunha-Busch
- 5 de mai.
- 4 min de leitura
Por AFP - Agence France Presse
O apagão na Espanha destaca o desafio das energias renováveis para a rede elétrica
Nathalie ALONSO
A causa da grande queda de energia na Espanha e em Portugal na semana passada ainda não foi esclarecida, mas ela colocou em evidência a energia solar e eólica, que os críticos acusam de sobrecarregar as redes elétricas.
O aumento das energias renováveis representa um desafio para as redes elétricas, que devem evoluir para se adaptar à medida que os países abandonam os combustíveis fósseis.
- Manter a estabilidade
Os operadores das redes devem garantir que a eletricidade esteja constantemente equilibrada entre a demanda e a oferta.
Uma medida desse equilíbrio é a frequência da eletricidade que flui pela rede, fixada em 50 hertz (Hz) na Europa e 60 Hz nos Estados Unidos. Se esse número se desviar muito, pode comprometer a rede.
Historicamente, o sistema elétrico depende de usinas convencionais — a gás, carvão, nuclear e hidrelétrica — que utilizam turbinas giratórias para gerar eletricidade.
Essas máquinas mantêm a frequência estável.
Seus rotores gigantescos girando em alta velocidade fornecem inércia ao sistema.
Se uma usina falhar ou se a demanda de eletricidade aumentar muito rapidamente, eles ajudam a estabilizar a rede, liberando a energia cinética armazenada nos rotores.
Em vez de máquinas giratórias, os parques solares e eólicos utilizam sistemas eletrônicos que alimentam a rede, tornando mais difícil manter esse delicado equilíbrio.
A energia renovável terá que fazer mais do que fornecer eletricidade livre de carbono no futuro, disse Jose Luis Dominguez-Garcia, especialista em sistemas elétricos do Instituto de Pesquisa Energética da Catalunha (IREC).
Elas terão que “auxiliar o sistema com controles adicionais para apoiar a rede, particularmente em termos de inércia”, disse ele.
Marc Petit, professor de sistemas elétricos na renomada escola de engenharia francesa CentraleSupelec, argumentou que o abandono dos combustíveis fósseis tornaria as usinas hidrelétricas e nucleares “ainda mais essenciais para estabilizar o sistema”, pois utilizam máquinas rotativas.
- Volantes
Já existe uma série de soluções técnicas para compensar a falta de inércia das energias renováveis e, assim, apoiar a estabilidade da rede.
Entre elas estão o armazenamento por gravidade, o ar líquido criogênico, o ar comprimido e a energia solar concentrada.
À medida que passa por uma transição para longe do carvão, a Grã-Bretanha está apostando em flywheels, um sistema testado e comprovado.
O excedente de energia das usinas solares e eólicas é usado para fazer as grandes rodas girar, criando energia cinética.
Essa energia armazenada pode então ser convertida para fornecer eletricidade à rede, se necessário.
- Sem sol ou vento
Pouco antes do grande apagão de 28 de abril, a energia eólica e solar forneciam 70% da produção de eletricidade da Espanha. No entanto, as energias renováveis são fontes intermitentes, pois dependem da natureza.
Quando o vento para de soprar ou o sol se esconde, outras fontes precisam entrar em ação em questão de minutos, ou é necessário que existam sistemas adequados para armazenar — e depois liberar — as energias renováveis.
Dependendo do país, o fornecimento de reserva provém atualmente principalmente de centrais térmicas (gás ou carvão), reatores nucleares ou hidroeletricidade.
Para lidar com os altos e baixos da energia renovável, os países devem aumentar a capacidade de armazenamento.
O método mais difundido é a energia hidrelétrica com reservatórios de água.
No entanto, grandes baterias fixas, semelhantes a contêineres, estão sendo cada vez mais utilizadas em parques eólicos e solares — um segmento dominado pela China.
Para atingir a meta global de triplicar a capacidade renovável até 2030, a capacidade de armazenamento terá que aumentar seis vezes, com as baterias respondendo por 90% do trabalho, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
Outra maneira de aliviar a pressão sobre o sistema seria transferir o uso de eletricidade — por exemplo, quando você carrega a bateria do carro — para o meio do dia, quando a energia solar está no pico.
- Redimensionar a rede
Os apagões generalizados “sempre foram provocados por falhas na rede de transmissão, e não pela geração, renováveis ou outros fatores”, afirmou Mike Hogan, consultor do Regulatory Assistance Project (RAP), uma ONG cujo objetivo declarado é alcançar um futuro energético limpo, confiável, equitativo e econômico.
Serão necessários dezenas de bilhões de euros, talvez centenas de bilhões, para renovar as linhas de energia antigas e substituí-las por novas e mais potentes.
A necessidade de modernizar ou expandir as linhas é urgente, uma vez que os centros de dados, grandes consumidores de energia, estão a crescer e as fábricas consomem cada vez mais eletricidade.
Os países também precisam de reforçar as interligações entre os seus sistemas energéticos.
Essas ligações transfronteiriças ajudaram a restabelecer a energia em Espanha, quando a França interveio para partilhar eletricidade durante o apagão.
Até 2028, a capacidade de intercâmbio entre os dois vizinhos deverá aumentar de 2,8 para 5,0 gigawatts, reduzindo o relativo isolamento elétrico da península.
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