Prometa menos, aja mais: sediar a promessa do Brasil para a Cúpula do Clima. 12/08/2025
- Ana Cunha-Busch
- 11 de ago.
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Por AFP - Agence France Presse
Prometa menos, aja mais: sediar a promessa do Brasil para a Cúpula do Clima
Por Julien MIVIELLE, Ivan Couronne, com Thomas MORFIN no Rio de Janeiro
Antes da primeira cúpula do clima da ONU na Amazônia, o presidente defendeu a escolha de Belém para sediar a conferência, onde a escassez de acomodações acessíveis pode excluir exatamente as pessoas que o Brasil afirma querer trazer para o centro do debate.
André Correa do Lago enviou uma quinta carta aberta na terça-feira às dezenas de milhares de delegados e observadores da COP 30 convidados para Belém, uma cidade portuária de 1,3 milhão de habitantes na entrada da Amazônia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu para o evento de 10 a 21 de novembro.
Correa parece ter descartado a negociação de novos compromissos importantes, em meio a um apetite enfraquecido por ambições climáticas mais agressivas entre alguns atores-chave.
Em vez disso, os brasileiros estão propondo uma "agenda de ação" voluntária que promova e quantifique a implementação dos compromissos existentes para 30 objetivos principais, incluindo a transição para o abandono dos combustíveis fósseis.
Após as COPs no Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão, o Brasil democrático quer acolher uma ampla gama de participantes e dar voz aos "marginalizados, deslocados ou ignorados", de acordo com a carta. Aqui está a entrevista dele com a AFP:
PERGUNTA: O senhor promete colocar as pessoas "no centro da COP30". Como esta Conferência das Partes (COP) será diferente?
RESPOSTA: "É especial porque os objetivos, em comparação com outras COPs, são menos óbvios. Precisamos entender que se trata de uma nova fase — os 10 anos desde o Acordo de Paris trouxeram muitos resultados.
Mas também entendemos que a maioria das pessoas está frustrada com o ritmo do progresso na luta contra as mudanças climáticas. É por isso que estamos tão focados na ideia de implementar ações e em como podemos traduzir isso em algo que as pessoas entendam.
Esta COP também deve ser particularmente diversa, pois está sendo realizada na Amazônia, em uma sociedade muito diversa que enfrenta os desafios da pobreza e da grande desigualdade, mas também com ciência de alta qualidade e empresários muito competentes. O Brasil é um pouco como um mundo em miniatura.
P: O presidente do grupo dos Pequenos Estados Insulares disse que eles podem precisar reduzir o tamanho de suas delegações devido aos custos proibitivos de hospedagem em Belém. Como vocês abordarão isso?
R: "Precisamos de inclusão, precisamos que eles venham, e não podemos imaginar uma COP menor por causa de problemas de hospedagem. Precisamos conseguir acomodações e estamos fazendo tudo o que podemos para isso. Caso contrário, a COP teria um problema de legitimidade."
P: Essa questão logística não ofusca a essência?
R: "O Brasil escolheu uma cidade que não é a primeira opção em termos de infraestrutura, é verdade... Mas acreditamos que Belém também tem um simbolismo muito forte.
"Acredito que podemos superar a maioria dessas dificuldades para tornar esta COP verdadeiramente excepcional, com resultados muito fortes e delegados que se sintam confortáveis em uma cidade com enormes qualidades."
P: Por que vocês deram tanta ênfase à "agenda de ação" baseada principalmente em compromissos voluntários de empresas e estados?
R: "Essa agenda é interpretada por muitas pessoas como algo paralelo às COPs, o que poderia ser visto como uma distração. Mas decidimos transformá-la em uma ferramenta de implementação."
P: Mas isso não prejudica compromissos vinculativos nas negociações?
R: "Estamos trabalhando com o que já foi decidido por consenso entre os países. Mas, para a implementação, não precisamos de consenso: alguns países seguirão uma direção, outros, outra. Alguns setores podem se comprometer com coisas que o país como um todo não pode prometer."
Revisamos as mais de 400 iniciativas anunciadas desde o início da agenda de ação (em 2021) para garantir que estamos construindo sobre o que já foi feito, em vez de reinventar a roda.
P: A COP28 foi concluída com um acordo para a transição do uso de combustíveis fósseis. Serão definidos cronogramas específicos para petróleo e gás? E o Brasil — onde Lula quer explorar petróleo perto da foz do Amazonas — é o melhor lugar para essas discussões?
R: "Todos concordamos que cada país terá sua maneira de chegar lá. E as empresas terão sua maneira de contribuir. É muito mais importante tomar medidas adicionais do que ter novos textos.
Dito isso, essa questão está muito presente na agenda do Brasil porque o país é um campeão em energia renovável. Ao mesmo tempo, não apenas nos tornamos um grande produtor de petróleo, mas também temos potencial para descobertas.
"Portanto, esse debate no Brasil é muito importante. E é um debate que, obviamente, interessa a todos."
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