Senador dos EUA alerta sobre golpe dos combustíveis fósseis e acerto de contas econômico. 10/07/2025

Em uma entrevista, o senador democrata Sheldon Whitehouse, de Rhode Island, atribuiu a ampla revogação das proteções ambientais a uma enxurrada de gastos políticos corporativos ilimitados e anônimos e disse que expor a escala dessa "fraude" é fundamental para romper seu domínio (OLIVER CONTRERAS)

Por AFP - Agence France Presse

Senador dos EUA alerta sobre golpe dos combustíveis fósseis e acerto de contas econômico

Por Issam AHMED

Um dos principais defensores do clima no Senado dos EUA afirma que o governo do presidente Donald Trump não governa mais – ele "ocupa" o país em nome das grandes petrolíferas.

Em uma entrevista, o senador democrata Sheldon Whitehouse, de Rhode Island, atribuiu a ampla revogação das proteções ambientais a uma enxurrada de gastos políticos corporativos ilimitados e anônimos e disse que expor a escala dessa "fraude" é fundamental para romper seu domínio.

Seus comentários foram feitos em um momento em que o número de mortes por inundações catastróficas no Texas, associadas por cientistas às mudanças climáticas, ameaça aumentar ainda mais.

"Isso nem é mais governo", disse o político de 69 anos a um pequeno grupo de repórteres antes de um discurso no Congresso na quarta-feira — seu 300º discurso, chamado "Hora de Acordar", proferido enquanto ativistas se recuperam das ações de Trump.

"Esta é uma força de ocupação da indústria de combustíveis fósseis que se infiltrou em posições-chave de responsabilidade", disse o parlamentar.

"Parece ser governo — eles andam em carros pretos... têm cargos, têm títulos", disse ele. Mas, na realidade, "são lacaios dos combustíveis fósseis... e não se importam nem um pouco com a opinião pública ou a segurança pública".

As grandes petrolíferas gastaram pelo menos US$ 445 milhões para ajudar a eleger Trump, de acordo com uma análise recente da Climate Power, que afirmou que o valor provavelmente está muito subestimado devido a doações não divulgadas.

Em seu segundo mandato, o republicano Trump retirou os Estados Unidos do Acordo Climático de Paris, eliminou agências científicas, demitiu pesquisadores e meteorologistas, anulou os cortes de impostos sobre energia limpa de seu antecessor, Joe Biden, e reverteu os padrões de eficiência de motores e veículos.

Whitehouse chama isso de "os sonhos mais sórdidos da indústria de petróleo, carvão e gás se tornando realidade" e afirma que o cenário foi preparado pela decisão "Citizens United" da Suprema Corte de 2010, que desencadeou uma era de gastos políticos corporativos desenfreados.

Ex-procurador-geral de um estado que lutou contra poluidores corporativos, ele lembrou que, quando ingressou no Senado, o bipartidarismo climático floresceu: John McCain, o candidato presidencial do Partido Republicano em 2008, tinha "uma plataforma climática perfeitamente respeitável", enquanto senadores republicanos propunham projetos de lei.

"Não eram projetos de lei de brincadeira, de mordiscar as bordas", lembrou ele, mas teriam realmente mudado a trajetória das emissões climáticas.

A Citizens United reverteu restrições centenárias ao financiamento de campanhas e abriu as comportas para o dinheiro sujo.

"Eles conseguiram entrar no Partido Republicano e dizer: 'Nós lhes daremos quantias ilimitadas de dinheiro. Vocês terão mais dinheiro em suas eleições do que jamais viram antes.'"

Apesar do cenário desolador, Whitehouse ainda vê um caminho estreito para a segurança climática — e aponta vários fatores que podem mudar o jogo.

Primeiro, ele cita o possível surgimento de um esforço global de precificação de carbono, liderado pelo Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono da União Europeia, que tributa os importadores com base em sua pegada climática.

Países como Reino Unido, Canadá, México e Austrália poderiam se juntar a esse movimento, criando um preço global de fato para o carbono, imposto por meio do comércio — sem a legislação americana.

Em segundo lugar, ele diz que os democratas podem e devem expor o domínio dos combustíveis fósseis sobre o Partido Republicano, um fenômeno que ele chama de um dos "mais graves incidentes de corrupção e fraude política que o país já viu", e aprovar um projeto de lei que imponha transparência aos doadores.

Terceiro, o que antes era visto como uma crise para os ursos polares — e mais tarde como uma oportunidade para empregos verdes — hoje está atingindo diretamente os americanos onde mais dói: seus bolsos.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, alertou que as mudanças climáticas reduzirão a disponibilidade de hipotecas em áreas dos Estados Unidos nos próximos anos, à medida que bancos e seguradoras se retiram de regiões propensas a incêndios e inundações.

Os riscos podem se transformar de uma crise no mercado de seguros em um colapso mais amplo do mercado de hipotecas — potencialmente desencadeando uma crise semelhante à de 2008.

Whitehouse prevê que o domínio da indústria de combustíveis fósseis sobre os republicanos não durará para sempre.

"Quando ficar claro o que foi feito aqui, haverá uma redefinição drástica", disse ele. "Um acerto de contas virá por isso. Não há dúvida sobre isso — é simplesmente a natureza dos assuntos humanos."

O próprio Trump, acrescentou, foi simplesmente arrastado pela corrente dominante do Partido Republicano pós-2010, sem qualquer interesse ideológico na questão. Em 2009, ele foi coautor de um anúncio de página inteira no New York Times exigindo uma ação climática mais firme do então presidente Barack Obama.

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