Um ano depois, Porto Alegre ainda está cambaleando e teme a próxima enchente 23/04/2025
- Ana Cunha-Busch
- 22 de abr.
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Por AFP - Agence France Presse
Um ano depois, Porto Alegre ainda está cambaleando e teme a próxima enchente
Lucía LACURCIA
Armados com pincéis e tintas, voluntários retocam as casas que ficaram de pé depois das enchentes devastadoras do ano passado, que mataram quase 200 pessoas e deixaram meio milhão de desabrigados na cidade brasileira de Porto Alegre.
Enquanto os moradores continuam a reparar os danos quase 12 meses após a pior calamidade natural já ocorrida no Rio Grande do Sul, eles se preocupam com o fato de que não está sendo feito o suficiente para proteger a cidade contra outra catástrofe semelhante, que, segundo os especialistas, é cada vez mais provável devido às mudanças climáticas.
No final de abril e início de maio de 2024, três meses de chuva caíram sobre o rico estado, do qual Porto Alegre é a capital, em apenas 10 dias.
A maior parte do dilúvio foi sentida na cidade de 1,3 milhão de habitantes localizada às margens do Lago Guaíba, que é alimentado por quatro rios.
Mais tarde, os cientistas da World Weather Attribution concluíram que a mudança climática havia dobrado a probabilidade do “evento extremamente raro” - do tipo que se espera que ocorra apenas uma vez a cada 100 a 250 anos.
Com o trabalho de recuperação ainda em andamento, outra tempestade atingiu a cidade no mês passado - menos severa dessa vez, mas novamente inundando estradas, derrubando árvores e cortando a energia.
“Hoje em dia, a chuva traz medo e insegurança”, disse Jotape Pax, morador de Porto Alegre e artista urbano por trás do projeto voluntário de restauração.
- 'Muito preocupante'
Quando ocorreu a mega tempestade do ano passado, Porto Alegre dependia de uma barreira defeituosa de muros e diques projetados na década de 1960.
Devido à falta de manutenção, os muros estavam rachados e os portões eram sustentados por sacos de areia, de acordo com Mima Feltrin, especialista em enchentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pessoas
Das 23 bombas de drenagem de água, 19 falharam durante as enchentes, disse ela à AFP.
Um ano depois, apenas duas foram consertadas.
“É muito preocupante porque, até agora, o que temos visto são principalmente medidas de emergência”, disse Feltrin, apontando para ‘uma grande lacuna’ no reforço da infraestrutura.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente afirma que os países em desenvolvimento precisarão de até US$ 387 bilhões por ano até 2030 para projetos de adaptação às inevitáveis mudanças climáticas, incluindo a construção de muros marítimos e o plantio de culturas resistentes à seca.
Em 2020, apenas US$ 28 bilhões haviam sido disponibilizados.
No ano passado, um relatório da Climate Policy Initiative, uma ONG de pesquisa, constatou que o Brasil estava gastando cerca de US$ 2,7 bilhões por ano para se preparar para o agravamento de enchentes e secas - o que não é suficiente, de acordo com especialistas.
- 'Omissões'
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul concluiu em um estudo em dezembro passado que muitas mortes em Porto Alegre poderiam ter sido evitadas com um sistema de alerta e evacuação antecipado.
Em uma ação judicial multimilionária, o município é acusado de “omissões” que levaram a falhas no sistema de proteção contra enchentes, de acordo com o Ministério Público.
O prefeito Sebastião Melo disse que um plano de ação climática será apresentado ao legislativo municipal este ano, com a previsão de um sistema de alerta antecipado.
O plano também prevê obras para reforçar os diques existentes e construir novos, disse o prefeito à AFP, enquanto os sistemas de drenagem urbana já estão sendo modernizados.
- 'Melhor preparado'
Feltrin disse que Porto Alegre precisa renovar completamente seu sistema de contenção de enchentes, possivelmente analisando as soluções aplicadas em outras áreas de baixa altitude, como Nova York e Holanda.
“É importante ter comportas, mas também parques projetados para absorver a água”, disse ela.
No mercado central de Porto Alegre, uma placa relembra a inundação que submergiu completamente o prédio histórico.
Ele está movimentado novamente, e com mudanças como móveis feitos de aço inoxidável resistente à água em vez de madeira.
“Com a mudança climática, isso vai acontecer cada vez com mais frequência. Isso nos assusta muito, mas estamos trabalhando para estarmos mais bem preparados”, disse Nadja Melo, 45 anos, que administra um mercado de alimentos.
Para outros, tem sido mais difícil se recuperar.
Em um dos bairros mais atingidos de Porto Alegre, Sarandi, dezenas de famílias receberam ordens para sair ou correriam o risco de ter suas casas inundadas novamente em uma zona de alto risco.
“É muito difícil recomeçar”, disse Claudir Poli, 42 anos, com duas pernas protéticas, esposa e três filhos, reclamando que a ajuda financeira não é suficiente para realojar sua família.
A AFP está publicando esta história para coincidir com o Projeto 89% da Covering Climate Now, que tem como objetivo destacar que a maioria das pessoas no mundo quer ver uma ação climática mais forte.
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