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A Liderança Invisível: O que aprendemos com comunidades tradicionais sobre impacto e sustentabilidade. BRASIL OPINIÃO. 30/07/2025

  • Foto do escritor: Ana Cunha-Busch
    Ana Cunha-Busch
  • 29 de jul.
  • 3 min de leitura
Menino bebendo água limpa - arquivo Canva
Arquivo Canva

A Liderança Invisível: O que aprendemos com comunidades tradicionais sobre impacto e sustentabilidade BRASIL OPINIÃO. 30/07/2025


“Achei que ia morrer sem saber o que era tomar um copo de água limpa.”


Essa frase foi dita por um senhor de 101 anos no interior do sertão baiano. Ele estava muito emocionado: “deu tempo”, disse ele. A alegria o tomou assim como ele bebeu ligeiro aquele líquido. Naquele dia, ele havia recebido, pela primeira vez na vida, acesso à água potável por meio do Aqualuz — a tecnologia que desenvolvi ainda na adolescência. O que me impressionou, no entanto, não foi apenas sua emoção. Foi a serenidade com que ele acolheu a mudança. Sem alarde. Sem holofotes. Sem discurso.


Ali estava a essência do que hoje entendo como liderança invisível: aquela que transforma sem precisar ser notada. Que age de forma silenciosa, comunitária, resiliente. Ali eu percebi, como cumpro missões em silêncio.


O que é liderar de verdade?


Quando pensamos em liderança, tendemos a imaginar cargos, falas inspiradoras, estratégias de negócio. Mas depois de quase 12 anos trabalhando com acesso à água em regiões de vulnerabilidade, entendi que liderar é também saber escutar. É respeitar o tempo do outro. É ter a humildade de chegar em uma comunidade e perceber que eles já estavam liderando o processo — mesmo sem a gente.


Lembro de uma mãe em Pernambuco que, ao receber o Aqualuz, decidiu se tornar a responsável por cuidar do uso correto da tecnologia na vizinhança. Sem que ninguém pedisse. Ela criou sua própria rotina de visitas, identificou problemas de manutenção antes mesmo da nossa equipe, e passou a ser referência local. Nunca se autodenominou líder. Mas foi ela quem garantiu o sucesso do projeto naquela região.


Lideranças que não aparecem, mas sustentam tudo


A sustentabilidade, no sentido mais profundo, não se faz com soluções de fora para dentro. Se faz quando respeitamos e valorizamos as estruturas sociais, culturais e espirituais que já existem nos territórios.


Em comunidades quilombolas e indígenas com quem trabalhamos, aprendemos que a tomada de decisão é coletiva. Que o tempo das coisas é diferente. Que ouvir um ancião pode ser mais valioso do que qualquer dado técnico. E que liderar não é mandar — é cuidar.

É impossível esquecer de Dona Lenira, do sertão alagoano, que nos disse uma vez: “Aqui, a gente não corre pra resolver. A gente caminha junto até entender.”


Essa frase ficou comigo. Porque no ritmo acelerado do empreendedorismo, do impacto social, da agenda ESG, muitas vezes esquecemos disso. Esquecemos que transformar o mundo não é uma corrida de inovação. É um compromisso com quem já está resistindo há séculos.


Não estou aqui romantizando pobreza ou dificuldades. Os desafios que essas comunidades enfrentam são reais, urgentes e injustos. Mas é preciso reconhecer que existe sabedoria onde muitos só veem carência. Existe inovação onde a maioria enxerga escassez. Existe liderança onde o sistema não quer enxergar.


Quando a SDW chega a uma nova comunidade, sabemos que não estamos levando respostas prontas. Estamos chegando para somar, não para substituir. E é por isso que a escuta ativa é parte essencial do nosso processo de impacto.


Uma nova visão de liderança


Acredito que a próxima década da sustentabilidade não será liderada por CEOs em grandes fóruns internacionais, mas por mulheres anônimas que protegem nascentes, jovens que mobilizam sua comunidade, e anciãs que guardam histórias e soluções ancestrais.


Essa liderança não estará nos holofotes — mas sem ela, nada se sustentará.


Se queremos um futuro realmente sustentável, precisamos aprender a ver o invisível. Precisamos parar de tentar liderar de cima e, em vez disso, começar a seguir aqueles que já caminham há tanto tempo com os pés no chão.

Meu trabalho com água começou com uma tecnologia. Mas o que me ensinou mais foi a convivência. A vivência no campo. O silêncio respeitoso. Os olhos marejados de quem achava que nunca veria aquele dia chegar.


É por isso que hoje, quando me perguntam o que é ser uma boa líder, eu respondo: É saber que, às vezes, o melhor que você pode fazer é ouvir. E depois, caminhar junto. Isso é liderança sustentável; aquela que faz o silêncio gritar as demandas e mazelas desse mundo e transformá-las em um bem comum.




Pauta: Fria

ODS: ODS 6, ODS 10, ODS 11, ODS 12

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