A TERRA NÃO PODE 'SUSTENTAR' O USO INTENSIVO DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS, DIZ LULA NA COP30. 08/11/2025

A Terra não pode 'sustentar' o uso intensivo de combustíveis fósseis, diz Lula na COP30 / Foto: © AFP

Por AFP - Agence France Presse

A TERRA NÃO PODE 'SUSTENTAR' O USO INTENSIVO DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS, DIZ LULA NA COP30

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou na sexta-feira que a Terra não pode mais sustentar a dependência da humanidade em relação aos combustíveis fósseis e que, sem enfrentar essa realidade, a luta contra as mudanças climáticas estará perdida.

O líder de esquerda discursou em uma cúpula pré-COP30 na Amazônia brasileira, onde outros chefes de Estado e de governo imploraram a todas as nações que comecem a reduzir a queima de carvão, petróleo e gás, responsáveis pela maior parte da poluição que aquece o planeta.

As evidências do aquecimento perigoso nunca foram tão claras: a década desde o Acordo de Paris foi a mais quente já registrada, marcada pela intensificação de furacões, ondas de calor e incêndios florestais.

Lula afirmou que enfrentar a questão urgente sobre o futuro da energia determinará "o sucesso ou o fracasso na batalha contra as mudanças climáticas".

"A Terra não pode mais sustentar o modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis que prevaleceu nos últimos 200 anos", disse Lula aos líderes mundiais em Belém, onde estão ocorrendo as negociações climáticas da ONU.

O Brasil enfatizou que cada país seguirá seu próprio caminho para "a transição para longe dos combustíveis fósseis" — um pacto firmado por todas as nações em uma COP anterior, em Dubai, em 2023.

Lula preside as principais negociações climáticas do mundo apenas algumas semanas depois de seu governo ter aprovado novas perfurações de petróleo na região amazônica.

Mas João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, disse à AFP: "O Brasil espera que essa questão da eliminação gradual do uso de combustíveis fósseis esteja efetivamente na agenda", acrescentando: "Se realmente quisermos implementar essa decisão de Dubai, precisamos construir o roteiro".

A ministra do Meio Ambiente de Ruanda, Bernadette Arakwiye, enfatizou aos delegados que eles enfrentam uma escolha difícil.

"Podemos continuar com progressos graduais enquanto o planeta queima, ou podemos nos mobilizar para enfrentar a dimensão desta crise", disse ela.

- Imposto sobre voos de luxo -

A ausência de líderes dos maiores poluidores do mundo, incluindo os Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump descartou a ciência climática como uma "farsa", lançou uma sombra sobre as negociações, mas também catalisou apelos por maior mobilização.

França, Espanha e Quênia estão entre um grupo de países que lideram uma iniciativa na cúpula climática COP30 para um novo imposto sobre viagens aéreas de luxo, baseado na ideia de que a pequena elite de viajantes de classe executiva deve pagar mais por sua contribuição desproporcional ao aquecimento global.

"É justo que aqueles que têm mais e poluem mais paguem sua justa parcela", disse o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, na cúpula.

"Queremos expandir a coalizão e, em particular, trazer mais países europeus", disse uma fonte à AFP. A proposta certamente enfrentará resistência do setor da aviação, responsável por cerca de 2,5% das emissões globais de carbono.

- Apoio ao roteiro -

As mudanças climáticas perderam prioridade na agenda política, à medida que as nações lidam com pressões econômicas, disputas comerciais e guerras, além da agressiva pressão do governo Trump por mais combustíveis fósseis.

Lula lamentou a "pressão e as ameaças" que levaram a Organização Marítima Internacional (OMI) a adiar um plano para reduzir as emissões do transporte marítimo e também falou sobre a necessidade de buscar combustíveis alternativos para o transporte e a indústria, incluindo o etanol.

E a última rodada de negociações para um tratado inédito sobre plástico — um subproduto do petróleo e do gás natural produzido por empresas petroquímicas — fracassou em agosto.

Mesmo assim, o Brasil conquistou apoio para um novo fundo para salvar as florestas do mundo, arrecadando rapidamente mais de US$ 5 bilhões em promessas de doação para recompensar os países tropicais por não desmatarem.

O chanceler alemão Friedrich Merz afirmou na sexta-feira que seu país "dará uma contribuição significativa a esta iniciativa", sem especificar um valor.

O mundo ainda está longe de atingir a meta de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C no final do século, em comparação com os níveis pré-industriais — o principal objetivo do Acordo de Paris, considerado necessário para evitar as piores catástrofes da desestabilização climática.

Mas o chefe do clima da ONU, Simon Stiell, ressaltou que, dez anos após o Acordo de Paris, a cooperação global está produzindo resultados.

"Sem esse ato de coragem coletiva, ainda estaríamos caminhando para um futuro impossível de aquecimento descontrolado, de até cinco graus", disse ele. "Graças a isso, a curva se estabilizou abaixo de 3 °C — ainda perigoso, mas uma prova de que a cooperação climática funciona."

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