Brasil fora do Mapa da Fome? A Vitória Parcial de um País que Ainda Falta ao seu Povo. OPINIÃO 29/07/2025
- Ana Cunha-Busch
- há 5 dias
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Brasil fora do Mapa da Fome? A Vitória Parcial de um País que Ainda Falta ao seu Povo
Por Claudia Andrade
Hoje, 28 de julho de 2025, o Brasil comemora uma notícia que parece grandiosa: saímos oficialmente do Mapa da Fome da ONU. Um marco simbólico, importante, que representa, sim, o esforço de muitas mãos — políticas públicas, ações sociais, agricultura familiar, programas de transferência de renda, movimentos populares e organizações de base.
Mas é também hoje que a gente sente o peso da contradição.
O brasileiro comemora essa vitória enquanto lida, no mesmo prato, com a alta dos alimentos, o aumento do gás de cozinha, a energia que não dá trégua, e agora, um tarifaço norte-americano que promete pressionar ainda mais a economia global e empurrar para cima o custo de vida, especialmente nos países em desenvolvimento como o nosso. Os índices oficiais dizem que vencemos a fome extrema — mas basta sair às ruas para perceber que ela continua estampada nos olhos de quem escolhe entre almoçar ou jantar. Entre pagar o transporte ou comprar o pão.
A inflação voltou a ser protagonista silenciosa do cotidiano. A carne sumiu do prato. O feijão virou luxo em muitas mesas. A comida existe — mas será que está acessível? Sustentável? Nutritiva? Garantida como direito e não como favor?
E aqui entra uma reflexão que carrego na pele: eu que trabalho com o ODS 6, que levo tecnologias de acesso à água potável para comunidades em todo o Brasil, pergunto com sinceridade e dor:
Que país é esse que saiu do mapa da fome, mas onde milhões ainda não têm nem água para beber?
Sim, cada avanço deve ser comemorado. E que bom que demos um passo.
Mas ainda há um país inteiro com os pés descalços pisando em chão seco, onde falta saneamento, falta energia regular, falta renda, falta escola de qualidade, falta dignidade.
Falta justiça.
O brasileiro não tem fome só de comida. Tem fome de segurança. De respeito. De trabalho digno. De acesso à saúde, à moradia, à água limpa. Tem fome de direitos que o Estado insiste em negar ou tratar como esmola.
O que está por vir com a instabilidade global e o aumento nos custos — puxado por decisões econômicas externas como o tarifaço dos Estados Unidos — é mais exclusão. Mais vulnerabilidade. Mais crianças dormindo sem jantar, não por estarem no mapa da fome, mas por estarem fora do mapa de prioridades.
Não podemos aceitar uma narrativa que acomoda. O Brasil sair do Mapa da Fome é importante, mas não pode ser cortina de fumaça para as outras mazelas que gritam nesse país.
A verdade é que a vulnerabilidade mudou de roupa, mas não foi embora.
Ela anda agora com o crachá do desemprego informal, com a mochila vazia dos estudantes da periferia, com a conta de luz vencida da mãe solo, com a torneira seca do sertanejo.
A fome não acabou. Ela apenas aprendeu a se esconder nas estatísticas.
Porque um país só sai de verdade do mapa da fome quando sai também do mapa da negligência — e essa negligência não é apenas do governo. Ela é também das empresas que exploram sem devolver, das pessoas que se acomodam, das instituições que viram o rosto. Todos temos responsabilidade. A transformação exige um esforço coletivo, com consciência, coragem e ação. E se hoje o Brasil celebra uma conquista, amanhã já deve arregaçar as mangas para as próximas. Porque enquanto o tarifaço norte-americano pressiona a economia global e empurra ainda mais o custo de vida para cima, especialmente dos mais pobres, nós precisamos estar atentos e unidos para que o preço das grandes decisões não recaia, mais uma vez, sobre quem já carrega demais.
#ODS1 Erradicação da Pobreza
#ODS2 Fome Zero e Agricultura Sustentável
#ODS6 Água Potável e Saneamento
#ODS10 Redução das Desigualdades
#ODS12 Consumo e Produção Responsáveis
#ODS16 Paz, Justiça e Instituições Eficazes
#ODS17 Parcerias e Meios de Implementação
@cauvic2
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