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IA com sede: como a inteligência artificial ameaça a segurança hídrica — e como podemos reverter esse futuro. OPINIÃO 20/08/2025

  • Foto do escritor: Ana Cunha-Busch
    Ana Cunha-Busch
  • 19 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 20 de ago.

Arquivo Canva
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IA com sede: como a inteligência artificial ameaça a segurança hídrica — e como podemos reverter esse futuro. OPINIÃO. 20/08/2025


O paradoxo da inovação


A inteligência artificial é vista como o motor da próxima revolução econômica.

Mas por trás da promessa de algoritmos mais inteligentes e produtivos, existe um custo invisível: a água.


Enquanto 2,2 bilhões de pessoas ainda carecem de saneamento básico, os data centers que sustentam a IA consomem volumes gigantescos desse recurso — frequentemente em regiões já vulneráveis à seca.


Nos EUA, 40% dos data centers operam em áreas de alto estresse hídrico. Um único centro pode gastar até 5 milhões de galões de água por dia, o equivalente ao consumo de uma cidade de dezenas de milhares de habitantes.


Um estudo de 2023 mostrou que apenas treinar o GPT-3 consumiu 700 mil litros de água — suficiente para produzir 370 carros elétricos ou 320 pares de jeans. E esse é apenas um modelo. Com a escalada da IA generativa, a previsão é de que o setor demande até 6,6 bilhões de m³ de água por ano até 2030 — mais da metade do que o Reino Unido inteiro retira anualmente.


Quando algoritmos drenam comunidades


No Brasil, essa contradição já se desenha.


Gigantes como a ByteDance (TikTok) instalaram data centers em Caucaia, no Ceará, região marcada por crise hídrica histórica. Ali, até 80% da água usada nos sistemas de resfriamento se perde por evaporação, enquanto comunidades locais sofrem para garantir abastecimento regular.


Esse cenário não é exceção. No Novo México (EUA), fazendas enfrentam escassez severa enquanto data centers consomem milhões de litros de água potável. Em Phoenix, Arizona, moradores protestam contra a instalação de novas unidades justamente porque os aquíferos já estão sob risco crítico.


A questão é simples: estamos priorizando a sede dos algoritmos em vez da sede das pessoas.


IA sustentável é possível


O contraste é gritante quando vemos que soluções existem.

Um exemplo vem do Brasil: em 2025, foi desenvolvida uma IA nacional hospedada em data centers 100% movidos a energia renovável e carbono neutro, sem ampliar a pegada hídrica (InforChannel, 2025).

Na Suíça, o Aquasar, do IBM Research, já mostrou ser possível reaproveitar o calor dos servidores para aquecer prédios inteiros, reduzindo drasticamente o desperdício. Outras iniciativas apostam em resfriamento a ar, circuitos fechados e até uso de água não potável ou reciclada em vez de água potável.


O problema, portanto, não é técnico. É político e econômico: a maioria das Big Techs ainda opta pelo modelo mais barato e rápido, mesmo que isso signifique competir com comunidades vulneráveis pelo recurso mais vital do planeta.


O que está em jogo


Se nada mudar, a escalada da IA pode acelerar crises sociais e ambientais:


● Agricultura ameaçada: menos água disponível para irrigação em áreas já frágeis.


● Conflitos sociais: populações locais competindo com corporações globais.


● Colapso energético: água é essencial também para hidrelétricas e energia térmica; mais pressão significa risco duplo.


● Retrocesso climático: sem governança, a IA pode ampliar desigualdades em vez de resolvê-las.


Caminhos possíveis


Para evitar que a revolução digital se transforme em seca digital, precisamos de:

1. Transparência: relatórios públicos sobre o uso de água em cada data center, não só pegada de carbono.


2. Regulação inteligente: restrições para instalação em regiões críticas e incentivos a tecnologias de baixo impacto hídrico.


3. Justiça hídrica: priorizar o abastecimento humano e agrícola sobre o consumo corporativo.


4. Inovação responsável: escalar soluções como resfriamento a ar, reaproveitamento de calor e uso de fontes não potáveis.


Conclusão


A inteligência artificial pode transformar o mundo — mas não às custas da nossa água.


O futuro não precisa ser de algoritmos sedentos drenando comunidades vulneráveis.


O exemplo brasileiro de uma IA desenvolvida com data centers 100% renováveis e neutros em carbono mostra que o caminho existe.


O desafio é garantir que essa seja a regra, não a exceção.

Porque sem água, não há tecnologia possível.




ODS: ODS 6, ODS 7, ODS 11, ODS 12

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