Marcha massiva no Brasil marca o primeiro grande protesto climático da ONU em anos. 15/11/2025
- Ana Cunha-Busch
- há 6 dias
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Por AFP - Agence France Presse
Marcha massiva no Brasil marca o primeiro grande protesto climático da ONU em anos
Facundo Fernández Barrio e Issam Ahmed
Dezenas de milhares de pessoas lotaram as ruas da cidade amazônica que sedia a COP30 no sábado, dançando ao som de alto-falantes no primeiro protesto em larga escala em uma cúpula climática da ONU em anos.
Sob um sol escaldante, indígenas e ativistas cantaram, entoaram cânticos e giraram ao som de música alta enquanto empurravam uma bola de praia gigante representando a Terra e carregavam uma bandeira do Brasil com os dizeres "Amazônia Protegida".
Outros realizaram uma procissão fúnebre simbólica para combustíveis fósseis, vestidos de preto e fingindo ser viúvas em luto enquanto carregavam três caixões com as palavras "carvão", "petróleo" e "gás".
"Estamos aqui para tentar pressionar os países a cumprirem suas promessas e não aceitamos retrocessos", disse à AFP Txai Surui, um proeminente líder indígena de 28 anos.
Este foi o primeiro grande protesto fora das negociações climáticas anuais desde a COP26, há quatro anos, em Glasgow, já que os três encontros anteriores foram realizados em locais com pouca tolerância a manifestações: Egito, Dubai e Azerbaijão.
Chamado de "Grande Marcha Popular" pelos organizadores, o protesto em Belém ocorre na metade das negociações contenciosas e sucede dois protestos liderados por indígenas que interromperam as sessões no início da semana.
- Massacre na floresta -
"Hoje estamos testemunhando um massacre, pois nossa floresta está sendo destruída", disse à AFP Benedito Huni Kuin, um indígena Huni Kuin de 50 anos do oeste do Brasil.
"Queremos que nossas vozes sejam ouvidas na Amazônia e exigir resultados", afirmou. "Precisamos de mais representantes indígenas na COP para defender nossos direitos." Tyrone Scott, um britânico de 34 anos do grupo de combate à pobreza War on Want, disse que se tratava de uma "marcha liderada por indígenas, impulsionada por movimentos e feita pelo povo".
"É realmente empolgante e um ótimo antídoto para a monotonia e a esterilidade do interior da COP", disse Scott à AFP.
Entre suas reivindicações estão "reparações" pelos danos causados por corporações e governos, especialmente às comunidades marginalizadas.
Uma bandeira palestina gigante e faixas com os dizeres "Palestina Livre" apareceram em meio à multidão.
Um manifestante em pernas de pau, vestido como um ganancioso Tio Sam, denunciava o "imperialismo", enquanto outras obras de arte criticavam Donald Trump, o presidente dos EUA que denigre a ciência climática e defende os combustíveis fósseis.
"Aqui estamos falando sobre agroecologia, feminismo, estamos falando sobre como os sindicatos estão defendendo a vida e melhores empregos", disse Giovani Del Prete, de 33 anos, à AFP.
"Estas são as políticas que devemos adotar para vencer a crise climática."
Após uma marcha de 4,5 quilômetros pela cidade, a manifestação parou a poucos quarteirões do local da COP30, onde as autoridades mobilizaram soldados para proteger o local.
Por fim, a multidão — estimada pelos organizadores em 50 mil pessoas — dispersou-se pacificamente.
Na terça-feira, manifestantes indígenas forçaram a entrada no Parque da Cidade — o complexo da COP30 construído no local de um antigo aeroporto — entrando em confronto com agentes de segurança, alguns dos quais sofreram ferimentos leves.
Na sexta-feira, dezenas de manifestantes indígenas bloquearam a entrada por cerca de duas horas para chamar a atenção para suas lutas na Amazônia, o que levou a intervenções de alto nível para acalmar a situação.
— Cartas de amor e terapia —
Dentro do local, as negociações estão em um ponto delicado.
Ao final da primeira semana de negociações, a presidência brasileira da COP30 deve divulgar sua estratégia no sábado para conciliar as demandas dos países. Entre os principais temas estão como lidar com metas climáticas pouco ambiciosas e como melhorar o fluxo financeiro de países ricos para países pobres, visando construir resiliência contra o aquecimento global e fazer a transição para economias de baixa emissão.
Diversos participantes acreditam que os negociadores estão se mantendo firmes em suas posições enquanto aguardam a chegada, na próxima semana, de ministros do governo, que precisam chegar a um acordo até o final da conferência, em 21 de novembro.
Um diplomata ocidental afirmou que a presidência brasileira incentivou os países a tratarem as consultas como "sessões de terapia" — um espaço seguro para expressar preocupações.
As delegações também foram encorajadas a enviar relatos particulares descrevendo como percebiam o progresso das negociações, os quais os brasileiros chamaram de "cartas de amor".
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