Mulheres de Zanzibar se dedicam ao cultivo de esponjas com o aquecimento dos oceanos. 13/11/2025
- Ana Cunha-Busch
- 12 de nov.
- 3 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
Mulheres de Zanzibar se dedicam ao cultivo de esponjas com o aquecimento dos oceanos
Por Mary KULUNDU
Por volta das 10 da manhã, todos os dias, mulheres de hijab e vestidos longos e soltos caminham pelas águas rasas e turquesas de Zanzibar para cuidar de seus cultivos de esponjas – uma nova tábua de salvação após as mudanças climáticas terem afetado seu trabalho anterior.
O aumento da temperatura dos oceanos, a pesca excessiva e a poluição têm degradado constantemente os ecossistemas marinhos ao redor da ilha, prejudicando uma importante fonte de renda para os moradores da vila de Jambiani, que por muito tempo dependeram do cultivo de algas marinhas.
Em vez disso, eles se voltaram para o cultivo de esponjas em um projeto criado pela ONG suíça Marine Cultures.
As altas temperaturas mataram as algas marinhas e a diminuição dos estoques de peixes levou muitos pescadores a abandonar a atividade, disse o gerente do projeto, Ali Mahmudi. Mas as esponjas — que fornecem abrigo e alimento para criaturas marinhas — tendem a prosperar em águas mais quentes.
Elas também são lucrativas como produto orgânico de cuidados pessoais, usadas para esfoliação da pele. Dependendo do tamanho, podem chegar a custar até US$ 30 cada, e uma única fazenda pode ter até 1.500 esponjas.
Da costa, é possível ver varas pretas saindo da água, sustentando fileiras de esponjas.
"Fiquei chocada ao saber que existem esponjas no oceano", disse Nasiri Hassan Haji, de 53 anos, à AFP, relembrando quando soube da prática pela primeira vez, há mais de uma década.
A mãe de quatro filhos já cultivou algas marinhas, descrevendo o trabalho como árduo e com retornos irrisórios.
Em 2009, a Marine Cultures lançou uma fazenda piloto com mulheres viúvas em Jambiani para testar seu potencial no arquipélago, onde mais de um quarto da população de 1,9 milhão vive abaixo da linha da pobreza.
Com a crescente demanda por produtos ecológicos, o mercado tem se expandido de forma constante, com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) estimando o valor do mercado de esponjas naturais em US$ 20 milhões em 2020.
"Mudou minha vida, consegui construir minha própria casa", disse Shemsa Abbasi Suleiman, de 53 anos, sorrindo com orgulho.
Muitas outras mulheres se juntaram a uma cooperativa para expandir o projeto, mas nem sempre foi fácil.
"No começo, eu tinha medo de entrar na água porque não sabia nadar. Muitas pessoas me desencorajaram, dizendo que a água era muito forte e que eu ia morrer", disse Haji.
Graças a um programa de uma ONG, ela aprendeu a nadar aos 39 anos.
Além de gerar renda para os moradores locais, as esponjas são benéficas para o meio ambiente marinho.
Estudos mostram que a estrutura esquelética da esponja auxilia na reciclagem de carbono nos ecossistemas de recifes de coral, enquanto seu corpo poroso filtra e purifica a água do mar naturalmente.
Estima-se que 60% dos ecossistemas marinhos do mundo estejam degradados ou sendo utilizados de forma insustentável, segundo as Nações Unidas, que alertam para uma "crise profunda nos oceanos".
As esponjas também são conhecidas por ajudarem na restauração dos recifes de coral, que sustentam 25% da vida marinha e estão atualmente ameaçados.
"O que me atraiu nisso foi o fato de não estarmos destruindo o meio ambiente", disse Haji.
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