Operação Cloudburst: Holandeses treinam para inundações com "bomba d'água" 07/11/2025
- Ana Cunha-Busch
- 6 de nov.
- 3 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
Operação Cloudburst: Holandeses treinam para inundações com "bomba d'água"
Richard CARTER
Um helicóptero Chinook bimotor quebra a tranquilidade da paisagem holandesa, pairando a poucos metros de um canal antes de despejar quatro enormes sacos de areia na água: bem-vindos à Operação Cloudburst.
O exercício de cinco dias simula inundações catastróficas causadas por uma "bomba d'água", um temor constante em um país onde 60% da população vive abaixo do nível do mar, e as mudanças climáticas estão agravando a situação.
A operação, que reúne militares, planejadores de crises e autoridades locais de gestão de recursos hídricos, testa as respostas a 200 milímetros de chuva em um único dia — um quarto da precipitação anual na Holanda.
Tal cenário seria semelhante às inundações que devastaram a Europa Ocidental em 2021, com quase 200 mortes na Alemanha e 40 na Bélgica. Ninguém morreu na Holanda, mas grandes áreas foram inundadas.
"Nós, holandeses, desde que nascemos, sabemos que vamos lutar contra a água", disse o cabo Michel Vrancken, comandante da unidade.
Os militares estão sempre aprendendo a combater o inimigo, mas "os holandeses sabem que a água sempre pode ser um inimigo", disse o jovem de 25 anos à AFP, enquanto sua unidade empilhava sacos de areia atrás dele.
A equipe de Vrancken está treinando para implantar uma inovadora barragem móvel que pode conter o fluxo de águas de enchentes devastadoras — parte do exercício.
Por necessidade, os holandeses se tornaram líderes mundiais na gestão de água e inundações.
Se a natureza tivesse sido deixada seguir seu curso, a maior parte da Holanda seria um pântano lamacento, e não a quinta maior economia da União Europeia.
O país é essencialmente um grande delta atravessado por três grandes rios: o Reno, o Escalda e o Mosa, que desaguam no imprevisível Mar do Norte.
Sem defesas adequadas, 60% do país sofreria inundações regularmente, segundo o governo. Isso afetaria cerca de nove milhões de pessoas.
"Se quisermos permanecer neste país, precisamos aprender a prevenir inundações", disse Marian Booltink, coordenadora de crises da associação local de gestão de inundações, que supervisiona a Operação Cloudburst.
"As mudanças climáticas estão afetando meu trabalho porque agora sabemos que teremos mais crises devido à seca ou ao excesso de água", disse a mulher de 59 anos à AFP.
- 'Não subestime a água' -
Supervisionando os níveis de água e as defesas contra inundações em todo o país está Bart Vonk, presidente do Comitê Nacional de Coordenação durante Ameaças de Inundação.
"O impacto da água sobre uma pessoa é imenso", disse o engenheiro de 64 anos à AFP, de seu escritório, cercado por grandes telas que exibem dados nacionais sobre a qualidade da água em tempo real.
"O que aprendi na minha carreira é que não se deve subestimar a força da água, mas também não se deve subestimar o impacto sobre as pessoas quando suas casas são inundadas", afirmou Vonk.
Vonk e sua equipe garantem que o país esteja preparado para cenários extremos: uma seca que paralise toda a navegação interior ou uma devastadora tempestade.
Os holandeses estão aplicando inovação e tecnologia de ponta a um problema secular.
Drones inspecionam diques e barragens, gerando dados que são então processados por inteligência artificial para identificar pontos fracos.
Outra inovação: "ovos verdes", dispositivos que detectam a presença de castores, cujas escavações podem ser devastadoras para as defesas contra inundações.
Qual o segredo do sucesso holandês?
"Mantemos uma postura muito proativa", disse Vonk.
"Há outros países que são reativos, que aceitam um incidente. Na Holanda, não podemos aceitá-lo porque as consequências são muito graves."
No entanto, ele disse que os holandeses também aprenderam muito com outros países, principalmente sobre a recuperação de grandes inundações.
Vonk reconhece que as mudanças climáticas estão tornando seu trabalho "cada vez mais desafiador".
O derretimento das geleiras dos Alpes está elevando o nível dos rios na Holanda, tempestades e secas são mais frequentes e a elevação do nível do mar está aumentando a salinização, explicou ele.
Seu maior medo seria o rompimento de um dique que protege a Holanda — "o impacto seria imenso", mas ele confia nos preparativos holandeses.
"Eu sempre durmo muito bem... somos realmente bons protetores... a probabilidade é muito, muito baixa, por isso não me tira o sono", disse Vonk.
ric/ach





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