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Sustentabilidade Também é Mental: O Burnout e os Desafios do Trabalho Contemporâneo - Opinião 04/06/2025

  • Foto do escritor: Ana Cunha-Busch
    Ana Cunha-Busch
  • 3 de jun.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 4 de jun.


Photo ilustração de uma moça à escrivania com a cabeça nas mãos como se estivesse sobrecarregada
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Título: Sustentabilidade Também é Mental: O Burnout e os Desafios do Trabalho Contemporâneo - Opinião


By Ana Letícia Ferro

*Artigo elaborado em parceria com Isabella Fernanda Rodrigues Felipe, psicóloga pela UNESP e especialista em saúde mental e trabalho pela USP.


O The Green Amazon News tem como slogan “seu jornal sobre sustentabilidade” — e não é possível falar em sustentabilidade sem considerar o componente social, especialmente em um contexto no qual um transtorno ocupacional tem ganhado destaque e relevância: a Síndrome de Burnout.


Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença ocupacional desde 2022, a Síndrome de Burnout apresenta índices variados ao redor do mundo: no Japão, 70% dos trabalhadores são afetados; no Brasil, 30%.


Nos Estados Unidos, 55% da população relata níveis elevados de estresse, e na Austrália, um estudo indica que metade dos trabalhadores sofre de burnout devido ao estresse prolongado. Na Europa, a incidência também é expressiva: na Bélgica, 67% dos trabalhadores se consideram estressados; no Reino Unido, 70%; na Alemanha, 71%; e nos Países Baixos, 56%. Além disso, 38% dos países europeus reconhecem o burnout como doença ocupacional, embora apenas a Letônia o inclua formalmente na lista oficial de doenças ocupacionais.


É importante destacar que os dados sobre burnout podem ser influenciados por fatores culturais, metodológicos e pela disponibilidade de sistemas de saúde que incentivem os trabalhadores a buscar diagnóstico e tratamento. Além disso, aspectos políticos — como a inclusão formal do burnout na lista de doenças ocupacionais — podem impactar diretamente a quantificação desses casos.


Enquanto o burnout é frequentemente percebido pelos empregadores como um fator de custo e redução da produtividade, os trabalhadores acometidos pela síndrome enfrentam desafios significativos em suas vidas pessoal e profissional. Para aprofundar essa discussão, entrevistei a psicóloga, analista comportamental e especialista em Saúde Mental e Trabalho, Isabella Felipe.



TGAN: Como o burnout se manifesta? Quais os principais sintomas e principais consequências de um burnout?


Isabella: A Síndrome de Burnout constitui um conjunto de sintomas que compreendem sinais de exaustão emocional (sensação de esgotamento extremo, falta de energia), despersonalização (atitudes negativas com relação aos colegas e à atividade em si) e reduzida realização profissional (sentimentos de incompetência e insatisfação com as realizações do trabalho).

Os sintomas incluem cansaço físico, dores musculares, insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, dentre outros. As consequências são múltiplas e podem envolver doenças cardiovasculares, depressão, ansiedade e, ao extremo, o suicídio. Muitos casos são relatados na literatura em que o suicídio é realizado no próprio ambiente de trabalho, evidenciando a gravidade da situação.



TGAN: Quais desafios na vida pessoal a pessoa com burnout pode enfrentar?


Isabella: Indivíduos que apresentam a Síndrome de Burnout podem enfrentar isolamento social, conflitos familiares e dificuldades em manter relacionamentos. A irritabilidade e o mau humor associados à síndrome afetam negativamente os relacionamentos pessoais, levando ao distanciamento de amigos e familiares.



TGAN: O que empresas e funcionários podem fazer para evitar quadros de burnout?


Isabella: A literatura científica e oficial sobre a Síndrome de Burnout nos mostra que ela está mais associada a categorias profissionais que envolvem o cuidado e a lida com pessoas, como docentes e profissionais de saúde. Além disso, observa-se maior prevalência do adoecimento em trabalhadores que estão inseridos em ambientes de trabalho que passam por transformações organizacionais, principalmente compulsórias. Dessa forma, primeiramente é necessário atenção extra a esses trabalhadores


De maneira geral, é importante que as organizações de trabalho promovam um ambiente saudável e colaborativo, com políticas que incentivem o equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, proporcione segurança e bem-estar aos trabalhadores, além de combater pressões excessivas e competitividade. Isso significa uma enorme mudança de paradigma do que estamos vivenciando atualmente no contexto laboral, já que temos visto uma crescente uberização e precarização do trabalho, causando insegurança e pressão por produtividade, na medida em que o discurso pregado é de que “o seu sucesso depende apenas do quanto você trabalha”, sem nenhuma garantia previdenciária e vínculo empregatício.


Colocando em ações mais práticas, algumas intervenções têm sido apontadas pela literatura como de grande valia. Destaco aqui avaliação e monitoramento contínuos dos fatores psicossociais relacionados ao trabalho e à saúde física e mental e da organização do trabalho como um todo, realizando alterações quando necessário; treinamentos para gestores e trabalhadores, no sentido de prover conhecimento sobre saúde mental, a fim de capacitá-los a reconhecer situações de risco, oferecer acolhimento e suporte e reduzir estigmas e preconceitos; e intervenções individualizadas para o desenvolvimento de habilidades, quando identificadas as necessidades.


Os trabalhadores, por sua vez, podem adotar práticas de autocuidado, como exercícios físicos, momentos de lazer, psicoterapia e etc. Mas claro que esse é um mundo ideal, longe da realidade da maior parte dos trabalhadores brasileiros. Por isso, é necessário que as organizações de trabalho foquem nas ações que as competem e, ao mesmo tempo, políticas públicas sejam criadas para viabilizar as práticas de autocuidado individuais - como, por exemplo, redução da jornada de trabalho para que o trabalhador tenha mais tempo livre para cuidar de si, acesso facilitado a serviços de saúde física e mental gratuitos e de qualidade, dentre outros.



TGAN: Entre o reconhecimento do Burnout como transtorno ocupacional e a resistência das novas gerações à visão de trabalho da forma como conhecemos hoje, é imprescindível que as relações e sistemas de trabalho sejam repensadas. O que você diria ser primordial para as empresas “atacarem” primeiro no modelo atual, visando a melhoria da saúde psicológica dos colaboradores?


Isabella: É essencial que as empresas reavaliem suas estruturas organizacionais, promovendo uma cultura que valorize a saúde mental dos colaboradores. Isso inclui a redução da jornada e da carga de trabalho excessiva, a flexibilização de horários, o reconhecimento e valorização dos funcionários e a criação de um ambiente de trabalho que favoreça o bem-estar e a realização pessoal, em detrimento da já comentada situação do trabalho atual.



TGAN: Existe algum estudo que fale sobre a “perda de produtividade” na diminuição da carga horária de trabalho e algum que fale sobre a perda de produtividade por conta do burnout? Ou algo que possa reforçar essa ideia de que condições mais dignas de trabalho refletem em GANHOS, não em perdas?


Isabella: Ao contrário do que se imagina, estudos internacionais mostram que reduzir a jornada de trabalho não significa perda na produtividade. Pelo contrário, as empresas que participaram do estudo constataram ganhos em saúde e segurança do trabalho, com redução de casos de estresse e, inclusive, da Síndrome de Burnout. Existe, claro, um debate sobre suas desvantagens, como aumento de custo de operação, mas com relação à saúde mental é, sim, um modelo bastante atrativo.

A Síndrome de Burnout, por sua vez, pode trazer um significativo impacto negativo na produtividade dos trabalhadores. Um estudo publicado na Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, que avalia justamente a produtividade dos trabalhadores adoecidos, constatou que, dentre estes, houve uma perda de 31% de produtividade.



TGAN: Como o ambiente de trabalho, pensando no ambiente físico, pode interferir na qualidade de vida do trabalhador dentro do trabalho? Espaços amplos, momentos de descanso e espaços em contato com a natureza podem ser uma estratégia?


Isabella: O ambiente físico de trabalho desempenha um papel crucial na qualidade de vida dos trabalhadores. Espaços amplos, organizados e limpos contribuem para a redução do estresse e aumento da produtividade. A implementação da metodologia 5S, por exemplo, promove a organização e eficiência no ambiente de trabalho. Além disso, a exposição à natureza tem efeitos positivos na saúde mental, como a diminuição do estresse e melhoria do humor. Ambientes de trabalho que incorporam elementos naturais, como plantas e áreas verdes, podem contribuir para o bem-estar dos funcionários.

Esse artigo foi escrito amparado pelas seguintes reportagens e artigos:


I. JORNAL USP. Síndrome de burnout acomete 30% dos trabalhadores brasileiros. Jornal da USP. Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/sindrome-de-burnout-acomete-30-dos-trabalhadores-brasileiros/. Acesso em: 14 mar. 2025.


II. TERRA. Brasil é o segundo país do mundo com mais casos de burnout. Terra. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/brasil-e-o-segundo-pais-do-mundo-com-mais-casos-de-burnout%2C866b4a934360907841316ea4d39a69ebqttgx7ir.html. Acesso em: 14 mar. 2025.


III. FORBES. 10 países com maior nível de estresse do mundo. Forbes Brasil. Disponível em: https://forbes.com.br/principal/2019/05/10-paises-com-maior-nivel-de-estresse-do-mundo/. Acesso em: 14 mar. 2025.



V. EURONEWS. São estes os empregos mais stressantes da Europa. Euronews. Disponível em: https://pt.euronews.com/business/2024/09/28/sao-estes-os-empregos-mais-stressantes-da-europa. Acesso em: 14 mar. 2025.


VI. PMC. The recognition of burnout as an occupational disease in Europe: A comparison of laws. PubMed Central. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6885602/. Acesso em: 14 mar. 2025.

VII. MASLACH, C.; GOLDBERG, J. Prevention of burnout: new perspectives. Applied and Preventive Psychology, [s. l.], v. 7, p. 63-74, 1998.


VIII. PÊGO, F. P. L. e; PÊGO, D. R. Síndrome de Burnout. Rev Bras Med Trab, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 171-176, 2016. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/09/1833/rbmt-v14n2_171-176.pdf. Acesso em: 28 nov. 2023.


IX. MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE/BRASIL. Doenças Relacionadas ao Trabalho: Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde. Brasília: Editora MS, 2001. 580 p.


X. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO guidelines on mental health at work. Geneva, 2022d. 117 p. Disponível em: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/363177/9789240053052-eng.pdf?sequence=1. Acesso em: 12 dez. 2023.


XI. JORNAL DA USP. Pesquisa inglesa mostra que redução da jornada de trabalho não afeta produtividade. Jornal da USP. Disponível em https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/pesquisa-inglesa-mostra-que-reducao-da-jornada-de-trabalho-nao-afeta-produtividade/. Acesso em: 15 mai. 2025


XII. GUIMARÃES, Beatriz Oliveira; SANTOS, Luana Bezerra dos; SILVA, Fernanda Caroline da. Avaliação da produtividade na síndrome de burnout. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 90–97, 2019. Disponível em: https://www.rbmt.org.br/details/90/pt-BR/avaliacao-da-produtividade-na-sindrome-de-burnout. Acesso em: 15 maio 2025.


XIII. ZHANG, Zhe; CHEN, Weiyu. Workplace environment design: Impacts on employee productivity and well-being. arXiv preprint, 2020. Disponível em: https://arxiv.org/abs/2001.04562. Acesso em: 15 maio 2025.


ODSs: 3 – Vida Saudável, 8 – Trabalho digno e crescimento econômico; 11 – Cidades e comunidades sustentáveis; 12 - Produção e consumo sustentáveis; 17 – Parcerias para o desenvolvimento.



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