Todos a bordo! Navios de cruzeiro aliviam a escassez de hotéis em Belém. 09/11/2025
- Ana Cunha-Busch
- 8 de nov.
- 4 min de leitura

Por AFP - Agence France Presse
Todos a bordo! Navios de cruzeiro aliviam a escassez de hotéis em Belém
Mariëtte Le Roux
Dois navios de cruzeiro se erguem imponentes sobre um porto tranquilo na Amazônia brasileira, onde cerca de 50 mil pessoas estão reunidas para uma conferência climática da ONU.
A AFP visitou o porto fluvial de Outeiro, em Belém, no litoral norte do Brasil, cercado por pequenas comunidades de pescadores que vivem em barcos e estão impressionados com a enormidade dos hotéis flutuantes.
Com capacidade para 6.000 pessoas, os gigantescos navios chegaram da Europa de última hora para acomodar mais delegados estrangeiros reunidos em Belém — uma cidade de 1,4 milhão de habitantes, dos quais mais da metade vive em favelas.
Alguns convidados reclamaram do tamanho reduzido das acomodações e da longa distância entre o porto de Outeiro e o local da conferência — cerca de 20 quilômetros (12,4 milhas), o que leva aproximadamente 45 minutos de ônibus.
Outros veem a experiência como uma oportunidade única na vida.
"Sabe... na maioria das conferências, ficamos em hotéis ou apartamentos", disse Bereng Mokete, funcionário do departamento florestal do Lesoto, à AFP, enquanto aguardava no porto para embarcar em um dos navios pela primeira vez.
"Queríamos algo diferente", acrescentou, esperando que a experiência seja "algo que sempre lembrarei".
A AFP não teve acesso aos navios.
Nos meses que antecederam a conferência, com os poucos hotéis de Belém lotados, os organizadores se apressaram para encontrar acomodações para os delegados em casas particulares, universidades e escolas. Depois, vieram os dois navios.
Os preços dispararam.
- Ironia -
Receber o MSC Seaview e o Costa Diadema em Belém exigiu melhorias consideráveis no porto de Outeiro, com um custo de quase US$ 45 milhões, segundo autoridades portuárias.
Os moradores de Belém comemoraram o investimento em infraestrutura, tão necessário para uma cidade carente, que também ganhou uma ponte novinha em folha que dá acesso ao porto e ruas recapeadas.
Mas grupos ambientalistas apontaram a ironia de navios de cruzeiro que consomem muito combustível, emitem carbono e poluem a água, hospedarem delegados de uma conferência voltada para a preservação do planeta.
Alguns questionaram a sensatez de Belém sediar o evento.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, insistiu que a conferência deveria ser realizada na Amazônia – um símbolo poderoso da importância das florestas que absorvem carbono.
Aparentemente irritado com as dúvidas persistentes, Lula disse que os delegados poderiam "dormir sob as estrelas".
Em vez disso, muitos estão dormindo sobre a água.
"Tem sido uma boa experiência", disse José Santoro, que trabalha na logística representando o Brasil na conferência.
"Quer dizer, eu nunca estive em uma dessas coisas... o banheiro é um pouco pequeno para mim, mas eu sou uma pessoa grande", disse ele. "O quarto é muito confortável, a água é fria e quente, a internet está funcionando."
- 'Uma coisa linda' -
Vários delegados da conferência reclamaram à AFP sobre os problemas de hospedagem em Belém, com os preços exorbitantes — às vezes centenas de dólares por um quarto — encabeçando a lista de queixas.
Michel Omer Laivao, do Ministério do Meio Ambiente de Madagascar, disse que sua delegação estava "relativamente satisfeita" com o apartamento que encontraram na cidade após muita dificuldade, embora fique a uma hora de ônibus do centro de convenções.
"Mas o Brasil tem seus motivos... Acho que o motivo é que o Brasil quer mostrar a Amazônia. Os pulmões do mundo", acrescentou. "É uma coisa linda. Não é todo dia que se tem a oportunidade de ver a Amazônia."
Os preços dos navios de cruzeiro também eram proibitivos para muitos — chegando a US$ 600, segundo as delegações participantes —, embora algumas cabines tenham sido reservadas para representantes de países de baixa renda com tarifas reduzidas.
O Brasil, país anfitrião, afirmou esta semana ter garantido contribuições de "atores não governamentais" para financiar três cabines gratuitas por delegação de países de baixa renda.
Rosandela Barbosa, diretora portuária da CDP, empresa portuária do estado do Pará, disse à AFP que Belém está pensando a longo prazo.
Com o cais do Porto de Outeiro ampliado de 261 para 716 metros, ele agora está "adequado para receber navios de cruzeiro".
O projeto "permanecerá como um grande legado... porque haverá um aumento nas operações portuárias", com a esperança de um impulso no turismo e nas oportunidades de negócios, disse ela.
Barbosa minimizou as preocupações ambientais, afirmando que os navios possuem "tecnologia e mecanismos para gerenciar e controlar os combustíveis que utilizam" e que as agências estavam monitorando sua produção.
"Não se observa nenhum risco imediato ao meio ambiente", insistiu ela.
Para o hóspede Santoro, especialista em logística brasileiro, os bares, restaurantes e piscinas do navio representam um novo tipo de luxo.
Os cassinos, no entanto, estavam fechados.
"Acho que eles não querem que as pessoas fiquem lá (no convés)... porque o foco da COP é maior do que ficar nos navios para se divertir", disse Santoro.
mlr/md





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